Em declarações ao Porto Canal, o avançado brasileiro falou sobre as melhores recordações do FC Porto e desvendou o que ficou por conquistar
Sair do FC Porto a ganhar: “É sempre bom. Deixei as portas abertas no FC Porto. Foram quatro anos de uma história fabulosa e tenho dois filhos nascidos aqui. Tenho um carinho enorme, estou sempre aqui. Naturalizei-me, sou português hoje, por isso todas as histórias que estamos a falar são historias bonitas, boas de contar e que não foram conquistadas por mera sorte. A sorte dá muito trabalho. Trabalhei muito e agradeço a todos que fizeram parte da história, desde Pinto da Costa, dirigentes”.
O que ficou por fazer: “Queria ter sido campeão europeu. Fui o melhor marcador da Liga dos Campeões numa época, mas não fui campeão. Ganhei uma Supertaça Europeia pelo Galatasaray e se calhar Deus quis que fosse assim. Hoje estou tranquilo, consciente desta história toda, deste currículo muito positivo. Hoje aqui, falando para todos os meus fãs, os olhinhos vão brilhar e posso dizer o mesmo, quando estou na bancada dá vontade de entrar e marcar um golo”.
Menção na música de Rui Veloso: “Não tenho palavras para descrever. Não é qualquer um que tem esse apreço e eu agradeço ao Rui por fazer parte da história da carreira dele. É um clube que está e vai continuar a estar na minha história para sempre, pelos golos, pelos filhos, pela tradição, pela comida. Não há como esquecer um clube destes”.
Boas recordações: “Agradecimento ao presidente, a todos os companheiros e por ser sempre bem recebido aqui no Porto. Toda a história fortalece esse carinho, mas é um carinho que deu muito trabalho. Quando se trabalha com uma boa equipa fica-se sem palavras. Agradeço ao FC Porto por tudo isso”.
Eliminação frente ao Bayern na Champions em 1999/2000: “Vi que tínhamos qualidade para chegar à final, pena termos sido penalizados pela arbitragem com o Bayern de Munique. Se passássemos íamos para as meias-finais. Só precisei de sair para o FC Porto ser campeão. Podia ter sido campeão da Europa e do Mundo, mas depois ganhei uma supertaça pelo Galatasaray frente ao Real Madrid”.
Mágoa relativamente à eliminatória: “Fica mágoa, porque a equipa estava pronta para chegar a essa fase. Estávamos confiantes, a confiança aumentava a cada fase. Houve esse erro de arbitragem, que acontecem no futebol, mas que lá dentro sentimos mais do que os adeptos. É chato chegar a um grande jogo e ser prejudicado. O árbitro não puxa mais pelo FC Porto na Liga dos Campeões, é sempre o clube que tem mais expressão. Mas dois anos depois, o FC Porto foi campeão”.
Polémica em Campo Maior: “[José Soares, defesa do Campo Maiorense] começou a segurar-me, viu que não me conseguia marcar. Deu-me um estalo na cara e eu dei-lhe um soco na barriga. Nunca vi uma pessoa fazer tanto penálti e Bruno [Paixão] não marcava. Oito ou dez penáltis sobre mim e nem um foi marcado. Parecia que estavam comprados. Quando se vê uma equipa a ganhar tudo, usam-se todas as armas, até as que não podem usar”.
Como bater um central: “Central que é central, se for inteligente, só vai ao corpo. Não precisa de empurrar muito. São técnicas que eu sei, que ando no futebol. Eles não me conseguiam marcar. Sabe porquê? Não vou contar, um dia quero ensinar os meus filhos [risos]. Tenho uma técnica que é muito boa. Ainda não apareceu nenhum Jardel…”.
Questionado sobre as brincadeiras durante os treinos, o brasileiro revelou que se escapava às “investidas” dos companheiros devido aos muitos golos que marcava.
“Não tocavam muito em mim porque os meus golos davam sempre prémios de jogo. Sérgio Conceição e Aloísio diziam: 'não toques no Mário'. Sabiam que eu resolvia dentro de campo. Não era homem de contacto”, afirmou, em declarações ao Porto Canal.
“Tínhamos um grupo muito bom. Jorge Costa, Aloísio, Sérgio Conceição, Fernando Mendes, Rui Barros, João Pinto, Drulovic, Zahovic, Capucho, Edmilson, Domingos… Jorge Costa era o 'bicho'. Se já nos treinos dava porrada, imaginem nos jogos”, concluiu.
Jogo contra o Juventude de Évora, Jardel entra e marca sete golos: “Foram oito oportunidades, sete golos. À oitava oportunidade falhei não sei como, era para ser cem por cento de eficácia. Há um golo ali que foi o golo mais bonito da minha carreira [golo de letra] e não me lembro, na história do futebol português, um jogador entrar e fazer sete golos. Nem em treino fazia isso. Sempre sonhei fazer um golo assim, é preciso ter muita confiança para fazer um golo desses. Mostro sempre esse golo aos meus companheiros”.
Golo a Preud'homme na vitória sobre o Benfica: “Sérgio Conceição cruzou para mim e dominei com o peito. Diziam que só faço golos de cabeça… Pegou muito bem, foi um grande golo”.
Mário Jardel recorda o primeiro jogo pelo FC Porto e revela que não gosta da palavra “adaptação”
“Lembro-me como se fosse hoje. Estava 2-0 ao intervalo, o FC Porto a perder. Entrei, fiz uma assistência e um golo. 2-2”, começou por contar.
“Os europeus falam muito na adaptação quando um jogador chega à Europa. Eu não gosto dessa palavra. Quando um jogador é bom, resolve. Adaptar-se? A vida de um futebol é assim: tem de dormir cedo e tem de treinar. Eu sempre tive os meus objetivos e a minha fé naquilo que fazia. Todas as minhas rezas deram resultado, por vontade de Deus e por todos os que me ajudaram”, concluiu.
Mário Jardel esteve com um pé no Benfica, mas o presidente do FC Porto decidiu antecipar-se e acabou por “desviar” o atleta para o FC Porto. Quem o diz é o próprio “Super Mário”.
“Estava entre o FC Porto e o Benfica. Pinto da Costa, um grande presidente, sentiu que o Benfica ia contratar-me, foi lá e comprou-me. Inicialmente era para ser emprestado ao FC Porto mas acabei por ser transferido a título definitivo”, começou por dizer.
“De repente soube que Gaspar Ramos [antigo dirigente do Benfica] queria pagar-me mais 100 mil, mas Pinto da Costa resolveu logo tudo e comprou-me. Espetacular atitude”, acrescentou.
Jardel recordou ainda a primeira pré-época ao serviço do FC Porto, na Escócia. “Estive para ir jogar para o Rangers, mas não foi possível por não ter internacionalizações. Depois, a pré-época pelo FC Porto foi na Escócia. Essa parte da época é mais puxada do que no Brasil e cheguei um pouco cansado. Não estava a demonstrar muita qualidade nos treinos, mas também nunca fui muito disso. Fui mais de demonstrar qualidade nos jogos”, afirmou.
“Lembro que alguém me disse que o Drulovic tinha perguntado quem eu era porque eu não acertava numa bola nos primeiros treinos. Eu respondi que na hora do jogo eu iria resolver. Fizemos um treino às 9h da manhã e fomos para o estádio do Hearts. Na primeira parte fiz dois golos e saí. 'Tome, dois sacos'. Aí começaram a olhar para mim de maneira diferente”, concluiu.
(Fonte ojogo.pt)