FC Porto

Francisco J. Marques critica direção desportiva do FC Porto: “Villas-Boas e a sua equipa estão a falhar em tudo, menos na propaganda”

Francisco J. Marques utilizou as redes sociais para expressar a sua tristeza pela saída de Vítor Bruno do FC Porto, sublinhando a sua insatisfação em relação aos “incompetentes que dirigem o clube”.

“São 2:25 da madrugada, vou descansar, o que os jogadores do FC Porto não podem fazer, pois os incompetentes que gerem o clube decidiram mantê-los a todos no estádio”, começou por relatar o antigo dirigente.

“Na quinta-feira há um jogo, mas isso é secundário, o que é urgente é desviar as atenções de quem é o responsável por toda esta situação. Nem no futebol amador”, acrescentou Francisco J. Marques.

Aqui está o texto completo do ex-diretor de comunicação do FC Porto:

“A decisão mais crucial num clube de futebol é a escolha do treinador. Essa escolha é determinante para o sucesso ou insucesso do clube, com implicações fundamentais na conquista de títulos, na obtenção de receitas, na valorização dos jogadores. Após a escolha, para o bem ou para o mal, o clube, independentemente de qual seja, torna-se refém do trabalho do treinador, independentemente das boas condições que lhe sejam oferecidas, e, quer se queira quer não, o sucesso do clube está atrelado ao sucesso do treinador.

Hoje em dia, os processos de recrutamento de treinadores no futebol profissional europeu são complexos, com o intuito de minimizar a margem de erro. Fazer a escolha de um treinador sem informação é algo que já não se justifica, mas foi isso que André Villas-Boas fez ao promover de forma irresponsável Vítor Bruno a treinador principal. Essa foi uma decisão amadora, desprovida de qualquer racionalidade, que está agora a ter um custo elevado.

Vamos aos factos: Villas-Boas optou por Vítor Bruno sem ter conhecimento do seu trabalho. Ninguém sabia se Vítor Bruno tinha as qualidades necessárias para ser o treinador principal do FC Porto, uma vez que nunca tinha exercido essa função. Villas-Boas não tinha, sequer, um conhecimento profundo de Vítor Bruno, devendo ter tido no máximo meia dúzia de conversas com ele. Seria uma situação diferente se Villas-Boas tivesse escolhido um adjunto de uma equipa técnica que ele próprio dirigia, com um ou dois anos de convivência, o que permitiria uma avaliação mais próxima das competências do adjunto e, assim, promover uma subida ao principal com um mínimo de certezas. A situação que se verificou foi uma aposta no escuro, sem qualquer conhecimento.

Foi um erro colossal, que se prolongou no tempo, quando todos já se tinham apercebido que, infelizmente, Vítor Bruno não tinha as capacidades necessárias para liderar um clube como o FC Porto. As consequências desse erro não se limitam ao despedimento desta madrugada, pois, se o FC Porto não conseguir, pelo menos, o segundo lugar e a qualificação para a Champions, a próxima época já está a ser comprometida.

Vítor Bruno começou de forma promissora, com uma recuperação extraordinária que vi uma equipa do FC Porto fazer na conquista da Supertaça, mas, a partir daí, a situação deteriorou-se, com uma sucessão de desempenhos insatisfatórios, enquanto o presidente se limitava a fazer propaganda em benefício da sua própria imagem e desaparecia sempre que os resultados eram negativos (até hoje, Villas-Boas nunca se apresentou após um resultado desastroso).

Não nos deixemos enganar, a situação em que nos encontramos não é culpa de Vítor Bruno, mas sim das más decisões de Villas-Boas, que está a demonstrar uma falta de preparação na área em que todos pensávamos que ele se sentiria mais à vontade, que é a gestão desportiva.

Apesar do desgaste de sete temporadas, sendo que apenas a última foi marcada por um mau desempenho no campeonato (mas com um desempenho aceitável na Champions e uma vitória saborosa na Taça), tínhamos um treinador de excelência, que era uma garantia de competitividade, rigor, trabalho e exigência. Era um treinador exigente, pois há aspectos que são inegociáveis na sua constante ambição de vencer, o que torna difícil a convivência diária com um nível de exigência tão elevado, mas optar pela solução mais simples poderá ter um custo elevado.

Não é para falar das decisões colaterais sem qualquer sentido, como o empréstimo de Francisco Conceição, que foi o melhor jogador da equipa na segunda metade da época. Muitas vezes, perdemos o melhor jogador da equipa, mas isso se deve a transferências por montantes elevados, que permitiriam reinvestir, mas desta vez optou-se pelo empréstimo, o que foi uma decisão prejudicial para a equipa. O departamento de propaganda, através de uma série de bots que controla nas redes sociais, fez crer que foi o jogador quem quis sair, como se a vontade dos jogadores prevalecesse sobre os contratos, mas as palavras de Villas-Boas na altura não deixam margem para dúvidas: “Há sempre uma ligação emocional ao pai e, perante a escolha técnica que fizemos, com o seu anterior adjunto, decidimos que era melhor para todos que ele fizesse este ano por empréstimo”, afirmou Villas-Boas.

Outra decisão colateral que prejudicou os interesses do FC Porto foi a escolha de não manter Pepe, um defesa central já com alguma experiência, que, numa análise séria, já não teria a capacidade para participar em mais de metade dos jogos, mas que era uma garantia de qualidade, tendo acabado de ter um desempenho notável no europeu, e que poderia ter contribuído, quer em campo, quer no balneário, quer nos treinos. A verdade é que a defesa está a roçar o patético e, por melhores que sejam os relatórios de scouting, ninguém consegue entender por que razão se aceitou pagar uma quantia tão elevada por Pérez (a sensação que tive é que não fez uma única ação defensiva relevante em Barcelos).

Chegados a este ponto, mais do que Vítor Bruno, quem deve prestar contas aos sócios e mudar de rumo é André Villas-Boas. O FC Porto não está melhor do que estava, está pior. Desportivamente, está muito pior, e a situação que se verifica na equipa B é gravíssima, assim como o que está a acontecer nas modalidades.

 Acreditam que com Pinto da Costa um treinador poderia destruir um jogador na flash e, pouco depois, haver uma resposta no Instagram? Jamais isso teria acontecido, pois com Pinto da Costa havia liderança; agora, há apenas propaganda.

O “milagre económico”, com sucessivas notícias que afirmam que foram pagos x e y milhões, irá confrontar-se com a realidade quando as contas forem apresentadas e todos verificarmos qual é a dívida bancária.

Meus amigos, não é por falta de vontade, a realidade é o que é. Villas-Boas e a sua equipa estão a falhar em todos os aspectos, exceto na propaganda, mas até nisso o resultado é insatisfatório, pois se tivessem utilizado este tempo para unir sócios e adeptos, estaríamos agora muito mais preparados para enfrentar estes tempos difíceis; no entanto, ele optou por se vingar de outros, o que apenas tem diminuído e fragilizado o FC Porto.

Na essência, há uma grande falta de liderança e, quando verificamos que praticamente todas as nossas equipas estão em crise, é porque há problemas graves a montante. Espero que seja possível refletir e mudar o rumo que está a levar à desagregação do FC Porto enquanto clube associativo e a uma crise desportiva sem precedentes nos 42 anos de Pinto da Costa. Esta é a minha análise, nunca me escondi, nunca hesitei em dar um passo em frente em defesa do FC Porto, mas, após esta avaliação, que é muito crítica de Villas-Boas e da sua equipa, só voltarei quando houver um novo treinador. Estamos num momento crucial, a direção foi eleita para tomar decisões, todos nós esperamos e desejamos que tome boas decisões, que o FC Porto se reorganize e enfrente os verdadeiros inimigos, que são externos e não internos, como a direção tem julgado. Boa sorte ao treinador interino José Tavares, que oriente a equipa, seja por muitos ou poucos jogos, e boa sorte para quem for escolhido para liderar a equipa. Na quinta-feira, há um jogo muito importante e irei ao Dragão apoiar, como faço sempre que me é possível.

PS: não está esquecida a auditoria e sobre isso há muito a dizer e a expor, pois é vergonhoso e falso afirmar que Pinto da Costa adquiriu jóias com dinheiro do FC Porto. O responsável por isso é, mais uma vez, André Villas-Boas, que prefere disseminar mentiras a Tânia Laranjo (não importa se é ele diretamente ou outra pessoa, ele é o responsável) do que defender o bom nome do clube e de quem o serviu de forma brilhante. Se as jóias foram compradas, foi com o seu salário e a direção de Villas-Boas sabe isso muito bem, e com o salário, cada um de nós faz o que bem entender. Até podemos afirmar que os salários eram elevados, mas não podemos inventar que era dinheiro do clube, apenas para construir popularidade à custa do melhor de todos nós. Mas voltarei a este assunto em breve, pois há muito a dizer.