Viitorul, como Hagi inspira e faz

biancazzurro

Tribuna
14 Março 2017
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Viitorul, como Hagi cria futuro na Roménia
Maradona dos Cárpatos fundou clube e academia e até já defrontou o FC Porto na Youth League
Luís Pedro Ferreira
Jornalista

 
Viitorul, como Hagi cria futuro na Roménia
Gheorge Hagi sempre foi conhecido por fazer as coisas como queria. Dentro de campo e fora dele. Esse traço de teimosia está a mudar o futebol romeno.

Farto do que vivia no futebol do país, Hagi resolveu agarrar o futuro pelas próprias mãos.

O antigo médio de Real Madrid, Barcelona e Galatasaray nunca escondeu o amor pelo Steaua Bucareste, com o qual luta ombro a ombro pelo título.

A liderança do Viitorul na liga romena é apenas uma das consequências dos ensinamentos de Johan Cruijff. As outras, menos visíveis, são também mais demoradas. Mas Hagi tem o que a maioria do futebol romeno não tem: um projeto.

«O Viitorul tem a particularidade de ser totalmente diferente na Roménia, é um clube muito bem organizado, com um planeamento muito grande, compromisso com os atletas, não só com seniores, mas com os miúdos da formação sobretudo.»

Peterson Peçanha, guarda-redes do Feirense, trabalhou naquele clube romeno durante meia época. Conhece por dentro a Academia Hagi, as instalações, as ideias e o caráter do dono daquilo tudo: Gheorge, claro.




É o antigo guarda-redes de Marítimo e Paços de Ferreira que nos explica que um encontro entre os juniores do FC Porto e do Viitorul Constanta na Champions dos mais novos, a Youth league, não foi fruto de um acaso. É, lá está, uma consequência do investimento financeiro e ideológico de um homem determinado.

«É impossível ter uma conversa com ele que não seja sobre futebol. Pode estar a falar-se de outro assunto, mas passados dois minutos ele fala de futebol. Do balneário ao campo de treino são uns 200 metros e com isso passamos pelo local onde ficam os outros relvados. Quando juvenis e juniores estão a treinar e ele observa que algo não está como quer, nem sobe ao campo dos seniores. Fica lá no outro, pára o treino, chama o treinador e dá indicações. Todos têm respeito por ele e não é só pelo jogador que foi.»

Em 2009, a maior glória da Roménia decidiu fundar a Academia Hagi. Uma fábrica de talentos, como La Masia do Barcelona. O objetivo é desenvolver o futebol de uma nação que teve o seu momento alto no Mundial 1994, com ele próprio a liderar em campo a geração de ouro do país.

Ao mesmo tempo que fundou a academia em Ovidiu, estabeleceu o Viitorul. A escolha do nome não foi casual. «Futuro» em romeno. Teve de começar no terceiro escalão, estreou-se na Liga em 2012/13 e lidera-a em 2016/17.

Peçanha dá-nos o olhar interno que levou ao primeiro lugar do campeonato.

«O Hagi é o mentor de tudo. Veio com visão daquilo que é o Barcelona e trouxe com ele essa metodologia do Cruijff para a Roménia. Tem tido muito sucesso. Os jogadores da Academia integram as seleções em todas as camadas. Tem surtido efeito. Há pouco tempo, foi mesmo a única equipa a entrar com todos os jogadores formados em casa. Subiram à I Liga e neste espaço de tempo estão a lutar pelo título. Tudo isto com 80 por cento do grupo formado na Academia Hagi.»


Jogo na Academia Hagi
O guardião brasileiro conta-nos que «os miúdos de outras cidades vão para a academia, vivem lá, e inclusive, têm acompanhamento escolar». O que é comum no futebol de vários países é raridade na Roménia. «Tentam dar a formação mais profissional possível e têm tudo para no futuro serem uma das melhores da Europa», acrescenta.

Um pouco do tudo a que se refere Peçanha é listado mais tarde na conversa com o Maisfutebol: «É um centro de estágio muito bom. Dois campos grandes de futebol de onze, mais dois pequenos, de futebol de sete, de relva natural. Um sintético de sete e um sintético de onze. Estão ainda a terminar um hotel para fazer dentro do centro de estágio. O estádio tem cinco mil pessoas. Foi ele, o Hagi, que também o fez.»

O Maradona dos Cárpatos nunca foi um tipo qualquer, isso já se sabia. Continua igual. «Quando ele vai à TV, diz que é diferente de todos. Lembra que ninguém o ajudou, fez tudo com o dinheiro dele. É um homem diferente!»


Plano geral da Academia Hagi
Como diferente é o Viitorul, sublinhado pelas palavras de Peçanha, quando confrontado com a realidade do clube mais famoso do país.

«O Steaua Bucareste, além de ter apoio financeiro do dono [Gigi Becali], é ajudado por tudo e todos. Mas não quero entrar muito por esses lados, não me cabe falar sobre isso.» Peçanha refere, porém, que o Viitorul Constanta aproveitou um vazio criado no campeonato para se afirmar em definitivo na Liga.

«Os arquirrivais do Steaua, o Rapid e o Dínamo, eram em conjunto com o Petrolul as principais equipas da Roménia. Rapid e Petrolul entraram em falência e restou o Dínamo, que veio de um processo de reorganização. Conseguiram sair dessa restruturação, mas a nível financeiro é muito inferior ao Steaua. Com isso, surgiu o Viitorul com uma metodologia diferente. O Steaua vê os melhores e compra, o Viitorul forma.»


Estes dois emblemas estiveram em campo no último domingo. O Viitorul venceu por 3-1 e lidera o play-off de campeão com mais três pontos que o clube de Bucareste. Oito dos futebolistas que disputaram a partida passaram na Academia Hagi: seis no Viitorul e dois no Steaua. Para já, vender ativos também faz parte do processo: uma ideia não se financia por si só.

Aliás, essa é outra parte que, garante Peçanha, contrasta com a realidade futebolística do país, ele que passou por Rapid e Petrolul também. «Na Roménia, é muito complicado conseguir pessoas que tenham compromisso profissional. Mas salários, prémios de jogo, tudo o que é combinado é cumprido no Viitorul. Trabalhei lá uns meses e nunca tive nada atrasado. Isso dá confiança. Fui muito bem recebido no Viitorul. Ali há profissionalismo ao extremo, desde o Hagi ao presidente. Dificilmente o clube muda uma peça do staff. Resumindo, trataram-me como deve ser tratado um jogador de futebol. É um clube diferente dos outros.»

Paulo Sousa segura a pérola mais preciosa de Hagi

Na última convocatória do selecionador romeno há dois jogadores formados na Academia de Hagi: Romario Benzar, que joga no Viitorul, e Razvan Marin, do Standard Liége.

O internacional mais jovem de sempre da Roménia é Cristian Manea. Com 16 anos, nove meses e 22 dias atuou pela seleção sénior e bateu um recorde que vinha de…1928. É um produto, também ele, da academia, que apesar do pouco tempo de existência tem estado na discussão dos títulos de sub-19 e sub-17 do país.

A última chamada dos sub-21 romenos contempla 25 jogadores. Onze deles formados na academia de Gheorge Hagi. Nestes, incluiu-se o mais mediático de todos, que atua na Fiorentina de Paulo Sousa: Ianis Hagi. Sim, é filho.

Gheorge é fundador, deixou de ser presidente, mas quando se tornou treinador lançou o miúdo e até fez dele capitão de equipa. Ianis tinha 16 anos…


Peterson Peçanha contrasta com todo este mundo. Num clube apostado em lançar o futuro, pode causar estranheza a contratação de um guarda-redes com 36 anos. O Viitorul estava a pensar nos mais novos outra vez.

«A minha contratação foi numa fase em que eles se tinham classificado para o play-off de campeão, no inverno. Fui contratado eu e mais três jogadores fora daquilo que é o pensamento do Hagi. Ele pensou contratar um médio, dois centrais e um guarda-redes com experiência para dar suporte aos miúdos, para lhes transmitir experiências numa fase em que os jogos seriam mais complicados.»

Como o estão a ser agora. A vitória do fim de semana deixou o Viitorul na frente da corrida do título. Faltam oito jogos, porém, e a tarefa está longe de ser fácil.

«O Viitorul tem tudo para ser campeão, mas é complicado. Na Roménia não é fácil», ri Peçanha, que sublinha que «o Steaua tem muita força».

A teimosia de Hagi também.
 

Komodo

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  • Alfredo Quintana
  • Fernando "Bibota" Gomes
Vi o jogo do Viitorul contra nós na Youth League fiquei agradavelmente surpreendido com a qualidade de alguns jogadores, creio que é um projecto que ainda precisa de tempo mas que está no bom caminho.

A Roménia actual não apresenta a qualidade de outrora mas creio que projectos deste tipo irão ajudar a ganharem projecção novamente... E Lá está, Roménia é um mercado acessível a Portugal, espero que o Porto esteja atento.
 

Blashyrkh

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  • Novembro/17
é.. agora imaginem se um colosso como o FC Porto transpusesse essa dedicação, energia, saber, rigor, planeamento, infraestruturas e vontade que o Hagi está a aplicar no viitorul..

mas preferirmos continuar a definhar, sem rumo nem plano, com uma estrutura desactualizada, despreocupada e aburguesada.

obrigado @biancazzurro por apontares e nos trazeres esta história
 

biancazzurro

Tribuna
14 Março 2017
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Fez-se história esta tarde no campeonato romeno. O «jovem» clube Viitorul Constanta, treinado e presidido pela lenda romena Gheorghe Hagi sagrou-se campeão pela primeira vez na sua história, depois de ter sido fundado em 2009.

A equipa do Viitorul venceu na última jornada do playoff de campeão o Cluj por 1x0, com um golo marcado por Iancu de penálti, e conquistou o título. O campeonato terminou empatado mas a equipa beneficiou da vantagem no confronto direto com o Steaua de Bucareste.
 

Komodo

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  • Alfredo Quintana
  • Fernando "Bibota" Gomes
Está se a revelar uma boa fábrica de talentos, e é um mercado acessível.

Quem não anda a dormir é o cartel, que segundo se fala garantiu uma das maiores promessas da equipa Florinel Coman.
 

SouDragao

Bancada central
5 Setembro 2016
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Komodo disse:
Está se a revelar uma boa fábrica de talentos, e é um mercado acessível.

Quem não anda a dormir é o cartel, que segundo se fala garantiu uma das maiores promessas da equipa Florinel Coman.
Já foi tempo de termos scouts, agora as promessas não param por estas bandas, para nós só nos enfiam barretes tipo Quinteros e companhias ...
 

Pedro R.

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Eh pah só agora vi isto.

Quem acompanha os tópicos de scouting já me viu falar de vários jogadores do campeonato romeno, que acompanhei nesta edição.

O Vitrolul é um excelente projecto, muito bem estruturado, com uma estrutura física e humana de muita qualidade. A equipa é composta por muitos miúdos provenientes da academia Hagi e têm um futebol muito agradável à vista e também muito eficaz.

Jogadores como Coman, Nedelcu, Casap e Cicaldau são para seguir de perto
 

ruipsousa8

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  • Alfredo Quintana
Roménia, das muitas recordações (boas recordações) que trago lá do meu tempo de Erasmus, nenhuma é relacionada com futebol.

É absolutamente intragável.