Vou seguir o repto do
@Mike_Walsh e aproveitar enquanto o sono não me pega...
Sou um dos últimos rebentos da geração 2000 (a última boa casta segundo rezam as crónicas) e posso dizer que nos meus quase 24 anos o FC Porto é a única constante da minha vida
Infelizmente vivo a 20 km do Dragão por isso as idas ao estádio nunca foram tão frequentes como eu gostaria que fossem
Lembro me que o meu primeiro jogo foi a derrota contra o Atlético para a Taça. Saí do estádio em lágrimas
Lembro me de ir todos os anos ao treino de dia 1
Lembro me provavelmente de todos os jogos a que fui no Dragão de tão ocasionais que eram as viagens ao estádio
Mas se há algo que nunca me vou esquecer é que foi o meu avô que me passou este amor pelo clube e é por ele que eu sou portista doente como sou
Aprendi a ler ainda antes de entrar na primária com o nome dos jogadores do Porto no jornal O Jogo que o meu avô comprava todos os dias
Foi com ele que me sentava durante as tardes do fim de semana a ver futebol
Foi ele que me levou mais do que uma vez ao Olival ver jogos dos juniores, dos juvenis, dos iniciados
Foi ele que me ensinou que aqui ninguém fala em perder, ninguém recua. Que no FC Porto tinha de ser sempre contra tudo e contra todos. E que ser melhor não chegava. Tínhamos de ser muito melhores
Infelizmente não me lembro de 2004. Invejo todos os portistas que têm memórias vivas de Gelsenkirchen e de Viena porque não sei se algum dia voltaremos a ter a mesma felicidade
Mas lembro me perfeitamente de ver mais do que uma vez o DVD da caminhada até Gelsenkirchen e o DVD com a final completa e festejar sempre os golos do Carlos Alberto, do Deco e do Alenichev
Lembro me de Dublin. Lembro me do jogão do Radamel contra o Villarreal. Provavelmente são as primeiras memórias mais concretas em termos de épocas desportivas. De mandar a casa abaixo com os meus tios no golo do Kelvin e de na semana a seguir estar a roer as unhas no jogo da Mata Real
Depois vieram aqueles 4 longos anos de seca. 4 anos sem nada para festejar. Onde os valores que me tinham sido ensinados pelo meu avô pareciam esquecidos dentro de campo
Lembro me de uma alegria imensa no jogo contra o Bayern no Dragão, com a descida ao inferno na semana a seguir em Munique
Depois chega 17/18 e finalmente voltamos a festejar. Celebrei como um maluco a vitória nos Barreiros e o empate na semana a seguir dos 2 estarolas no derby. Finalmente estávamos de volta ao lugar que nos pertence
No ano a seguir foi muito mas mesmo muito difícil assistir à bandalheira que foram aquelas últimas deslocações dos lampiões no campeonato. Moreira de Cónegos, Braga, Santa Maria da Feira e Vila do Conde foram das maiores vergonhas que vi na minha vida. A sequência que dá o 0-2 aos lamps acho que foi a primeira e única vez que desliguei a TV e saí de casa e fui apanhar ar porque me senti assaltado. Absolutamente surreal. Nos dias a seguir não conseguia falar para ninguém. A azia misturada com o sentimento de injustiça foi dos maiores desgostos que tive na minha vida (arrisco dizer que sofri mais nessa semana que na semana posterior a terminar uma relação de 4 anos no ano a seguir)
Mas nem tudo foi mau nesse ano. Houve a felicidade enorme da eliminatória contra a Roma que depois foi brutalmente destruída contra os nossos amigos da cidade dos Beatles
19/20 foi muito difícil a começar com o Krasnodar e depois o covid pelo meio. Felizmente saímos com o campeonato no bolso no verão
20/21 tive provavelmente das vitórias que melhor me soube na minha vida de portista no golo do SO em Turim. E ainda hoje não ultrapassei os erros individuais do Zaidu e do Corona na primeira mão contra o Chelsea em Sevilha
21/22 teve uns primeiros 6 meses em que provavelmente jogamos o melhor futebol pós 10/11 e nunca vou perdoar quem permitiu que nos tirassem a possibilidade de ter uma época de sonho a 30 de janeiro mas isso contas de outro rosário
22/23 sofri muito com a derrota contra os lamps no Dragão no jogo em que faltou tomates ao sôr árbitro para expulsar o Bah e depois aquele fim de semana em que os lamps jogam em Vizela e nós somos vítimas de um roubo de igreja contra o Gil em casa que nos tirou o título e me deu uma azia para 15 dias
Em 23/24 finalmente tive possibilidade de me fazer sócio. Finalmente tive a possibilidade de comprar lugar anual e apesar do futebol miserável praticado em 90% dos jogos fica o cumprir de um sonho que se prolongará em 24/25
No meio de tudo isto consegui ir a Antuérpia e a Barcelona e tive a infelicidade de perder a minha referência de portismo na manhã seguinte a ter aterrado do jogo em Antuérpia. Aterrei no Porto no final de uma tarde de quinta feira chuvosa e o meu avô antes da minha mãe sair do pé dele no hospital só quis saber se eu tinha chegado bem daquele que era um cumprir de um sonho meu de ir ver um jogo do nosso Porto fora do país
Entre meados de agosto e 27 de outubro de 2023 o meu avô teve um final de vida demasiado rápido com o cancro do intestino rapidamente a espalhar se ao pulmão e ao cérebro com os últimos dias dele a serem já muito difíceis para mim de superar
Nos últimos dias já todos os sons o incomodavam mas lembro me que ele queria sempre ouvir ou as declarações do Sérgio ou os relatos dos nossos golos se tivessem a passar na televisão. Era a única coisa que o tranquilizava
Na manhã de 28 de outubro quando enterrei o meu avô prometi a mim mesmo que iria lutar a cada dia da minha vida para que os valores que ele me passou não se perdessem em vão
Por isso quando a 27 de abril de 2024 votei para que André Villas-Boas se tornasse o 32° presidente da história do FC Porto foi também para que os valores que me passou não se perdessem daquele que um dos maiores da minha vida
Por isso, avô, o FC Porto continua a ganhar. E enquanto eu puder e a voz não me doer tudo farei para que o nosso legado de conquistas e vitórias sem igual perdure