Absoluta. Primeiro, nem o Quim nem o Variações (que tinha uma voz grandiosa) tinham a voz e a capacidade para dançar do Jackson. Estamos a falar de um miúdo que, para além de possuir um talento inato, foi torturado para chegar aonde chegou. Até é bom dares o exemplo do Variações, porque quem estava no estúdio com ele eram algumas das melhores bandas portuguesas dos anos 80.
Falas nos Beach Boys. O Brian Wilson era o homem por detrás das músicas e da produção. O Pet Sounds é uma obra-prima. Sim, recorria aos músicos de estúdio, aos primos e aos irmãos - mas a ideia, a visão, era toda dele. Toda. Os Beatles não teriam chegado aonde chegado sem existir um Brian Wilson.
Ouve as demos feitas em casa de Beat It, Billie Jean, Smooth Criminal, etc., e verás, independentemente de achares que são músicas de jeito ou não, que a base, a visão, a estrutura das músicas já estava pré-definida pelo Jackson. Incomparável com a Madonna, cujo grande mérito é ser uma businesswoman espetacular, com uma visão de negócio ímpar, não propriamente um enorme talento.
Cada integrante da equipa do Quincy, sem prejuízo daquelas canções que foram escritas / feitas por algum deles (Thriller, Rock With You, por exemplo), pegava na visão do Jackson e fazia, dentro do seu nicho, que a canção soasse o melhor possível. Atenção: sempre sob a direção do Jackson e do Quincy. Não sabendo tocar qualquer instrumento, conseguia, através da sua voz e de barulhos com a boca (beatbox, p.e.), transmitir aos instrumentalistas o que deveriam tocar. Esse testemunho foi dado por vários dos que trabalharam com ele. O engenheiro de som do Quincy e do Jackson, o Bruce Swedien, tem um excelente livro a esse respeito, chamado "In the Studio with Michael Jackson".
Quanto ao exemplo que tinhas dado sobre o Prince, esse é mesmo o último degrau, porque o Prince era um control freak, tocava todos os instrumentos, fazia todos os arranjos, compunha e produzia todas as canções. Estava a cagar-se para o facto de ser comercial ou não - foi precisamente essa irreverência que o levou a ter problemas com a Warner nos anos 90, e a deixar de usar o nome Prince, passando a manifestar-se como um símbolo.