Não me surpreendeu a primeira derrota do FC Porto, a despeito do prometedor início de época, por duas razões essenciais: porque o jogar portista assenta em demasia na dimensão física e seria pelo menos igualado nesse plano - foi superado! - e porque o Nottingham tem mais argumentos de qualidade individual.
Só os mais desatentos ao futebol internacional podem desmerecer um meio-campo com Elliot Anderson, Douglas Luiz e Gibbs-White de início (e mais Sangaré, Dominguez e McAtee) no banco. Pressionar alto e roubar bolas depressa seria sempre muito mais difícil desta vez. Claro que os ingleses estreavam o terceiro treinador, mas se o momento não favorece a assimilação das novas ideias (o que tratando-se de Sean Dyche nem propriamente uma desvantagem), representa sempre um suplemento de motivação em jogos deste nível.
Ou seja, para contrariar estes sinais, era preciso um FC Porto tão forte como tem sido na disponibilidade para pressionar alto e ganhar duelos, mas ainda mais forte do que tem sido quando, em posse, não se sujeitando a perdas de bola rápidas face a um rival com mais andamento e talento. Combater fogo com fogo tinha tudo para correr mal.
E a aposta em Pablo Rosario no lugar de Gabri Veiga, uma vez mais desprezando Mora, só agravou o que já era árduo. Farioli saiu satisfeito com a parte defensiva do jogo, que foi aquela em que apostou. A desilusão está mesmo aí, e vem na linha da falta de audácia na segunda parte frente ao Benfica. Forte com os fracos há muitos. A ele próprio e ao FC Porto que está a construir já se exige bem mais. E melhor.
Ainda assim, não nos iludamos: não creio que mesmo o melhor FC Porto fosse, hoje por hoje, favorito a ganhar em Nottingham. Como ainda menos seria o frágil Benfica que foi, atemorizado, perder a Newcastle. Sei que já usei a palavra andamento neste texto, mas antes dele, do celebrado ritmo a que as equipas inglesas estão acostumadas e que não encontra paralelo por cá, conta a qualidade, de jogadores e de jogo.
Não falo sequer dos emblemas de topo ou do patamar seguinte, onde estão Tottenham, Aston Villa e Newcastle. Mesmo aquelas que vagueiam entre a fuga a despromoção e o sonho europeu - o Bournemouth, o Palace ou o Fulham, por exemplo - lutariam pelo título em Portugal. O equilíbrio só se consegue, e pontualmente, com um misto de grande competência em dois planos: na escolha de jogadores e no desenvolvimento de uma ideia.
E, por fim, coragem. E não tem sido fácil fazer com que coincidam em qualquer dos grandes portugueses.
Carlos Daniel , zerozero