"Enquanto termo que aponta para a dimensão socialmente construída dos papéis de género, o conceito ideologia de género foi acolhido e celebrado em meios feministas e sob a sua influência.
O termo apenas se tornou num conceito controverso quando certos atores políticos e religiosos começaram a usá-lo pejorativamente em meados dos anos 90 para definir o que esses atores acusavam de ser um movimento social permissivo pró-aborto e pró-LGBT que deveria ser combatido em nome da defesa da família e do bem-estar das crianças. Alguns estudos, frequentemente afiliados a grupos religiosos, adotam este modelo normativo (veja-se, por exemplo, Paul ADAMS, 2017).
Foi assim que o anátema “ideologia de género” se tornou uma estratégia retórica conservadora de crescente importância no ataque aos direitos LGBTQ (Tamara ADRIÁN, 2017), às agendas feministas em áreas como contraceção (Mónica CORNEJO-VALLE e Ignacio J. PICHARDO, 2017) e à
investigação que desconstrói pressupostos essencialistas e naturalistas sobre género e sexualidade (David PATERNOTTE e Roman KUHAR, 2018, p.8)."