Deixo também aqui o que postei na área do jogo de ontem. Acho que é pertinente discutir o que foi, é e que poderá ser o nosso Porto para o futuro, que na minha opinião precisa de voltar ao seu ADN e aquilo que nos levou a grande parte das nossas maiores conquistas. Acredito que esse ADN anda um pouco esquecido, parece-me tudo muito confuso e sem uma linha de pensamento e modelo bem definido. Para os adeptos mais novos alguns pontos podem ser até estranhos e pouco identificáveis, mas acredito ser uma discussão interessante.
Fui ao estádio e o que consegui concluir foi o que já penso ha muito tempo sobre esta equipa, já mesmo há alguns anos com excepção do ano em que tivemos um Vitinha que obrigou a um regresso às origens.
1. Equipa com pouca qualidade, não há um jogador que tivesse lugar a titular indiscutível numa equipa nossa de há uns 12 anos, e mesmo no banco
2. Equipa sem líderes em campo
3. Jogo contra natura de uma equipa do Porto, muito lançamento em profundidade e pouco jogo com bola no pé e no chão
4. Falta de verdadeiros desiquilibradores, em especial nas alas, com excepção do Francisco
5. Médios que não gostam de assumir o jogo, pouco vem buscar jogo para levar a equipa para o ataque, muito passe para o lado e pouca vontade de assumir
6. Médios sem capacidade de remate de longa distância, outra forma de criar desequilíbrios nas defesas adversárias e abrir espaços
7. Meio campo com clássico Porto invertido, ou seja, sem um trinco com dois médios a frente com capacidade de pegar no jogo
8. Defesa muito insegura e com pouca capacidade de marcar posições com personalidade, em especial os laterais que são fraquinhos no momento defensivo, aliás posicionam-se sempre a medo e abordam os lances de forma pouco afirmativa
9. Ataque sem um ponta de lança que meta medo e que mexa com a estabilidade defensiva do adversário
10. Ataque sem uma solução à esquerda de qualidade não só de drible como de ir a linha ou para dentro e cruzar, temos apenas opções de meio da tabela nesta ala
O diagnóstico é um pouco assustador, mas não irreversível. Haja vontade, engenho e memória dos nossos melhores tempos.
Por mim e fundamental o regresso ao 4-3-3 clássico a porto e que deve ser implementado em toda a estrutura de futebol e equipas, como nosso ADN. Um pouco como faz o Barcelona, aliás clube e modelo muito similar ao nosso e que teve sempre os seus melhores anos quando seguiu esse seu ADN.
Um guarda redes seguro e tendo a sua frente dois centrais que dem segurança, um patrão que imponha respeito com um parceiro mais rápido e técnico, o modelo que sempre tivemos nos nossos momentos de maior sucesso. A seguir laterais que cumpram defensivamente e que sejam capazes de subir a vez para desequilibrar, podendo um ser mais fixo e o outro mais pulmão e com capacidade de ir à linha. A frente destes o chamado trinco, que agarre a equipa e com grande capacidade de limpeza a polvo e que liberte os médios para pegar no jogo, construir e penetrar, assim como rematar. Dois extremos com capacidade de drible e velocidade suficiente para desequilibrar, basicamente que criem insegurança e desestabilizem o momento defensivo do adversário, com excepção do Francisco pouco medo criamos nos adversários. Por fim um ponta de lança que saiba mexer com o jogo e eficaz, técnico o suficiente para saber apoiar e com inteligência para estar lá no momento de encostar ou abrir espaços para os colegas, neste momento só temos banalidade e mais uma vez não metemos medo a ninguém, tudo muito unidimensional.
E assim que eu vejo o nosso porto, tendo por base algumas décadas do nosso melhor futebol e muita tentativa e erro. As vezes a resposta está mesmo ali a nossa frente e acabamos a procura de soluções mais ou menos exóticas que nada tem a ver com o nosso ADN, a verdade é que quase todos os nossos melhores momentos são quando voltamos ao nosso ADN original.
Aceito que posso estar errado e que possa estar muito ligado a todos esses momentos de sucesso do passado, mas é a minha visão que está de acordo com o que pode ir assimilando ao longo dos anos.
Por último, volto a tocar no ponto dos líderes em campo. Ontem não havia quem marcasse o ritmo e que desse aquele grito para acordar. Parece tudo um pouco estático à espera que esse grito venha do banco ou de uma jogada que empolgue ou mesmo do público. os nosso grandes sucessos sempre apareceram quando havia liderança no banco mas principalmente em campo, nunca se deixava esse ónus a terceiros. O capitão sempre foi uma instituição no meu Porto, alguém que os adeptos veneravam e os adversários temiam e respeitavam, já não temos isso há muito tempo…
Um ponto que me marcou, a entrada dos nosso jogadores em campo a passo após o intervalo e já muito depois da equipa adversária. Lembro no tempo das Antas e alguns momentos importantes no Dragão quando o resultado ao intervalo era desfavorável ou mesmo quando o jogo parecia emperrado havia que criar ambiente para virar do avesso o jogo. Isto podia ser a equipa entrar para a segunda parte e diretamente para as suas posições, como que a dizer que estavam preparadíssimo a saber o que iam fazer. Seja em sair desde o túnel a correr como “gladiadores” confiantes para impor um jogo de sentido único. Estes são pequenos detalhes, mas que podem ajudar muito, não só pelo sentimento que transmitem ao público como ao adversário, são detalhes que definem jogos, que galvanizam e fazem momentos de vitória e de mística.
Ficam aqui os meus “quinhentos” abertos a crítica claro.