Mas isso é fácil de explicar.
A maior parte fala sem ter visto um jogo da B. Houve alguém que disse que o Zé Pedro era fraco (não vou questionar essa opinião) e como isso se enquadrava na narrativa a alimentar tornou-se a verdade absoluta cá do burgo.
O rapaz, por vicissitudes da vida, acaba a ser chamado à equipa A, rubrica duas boas exibições e o pessoal que andou a denegri-lo e a quem apostou nele lá tem de entrar em modo Cardinali e dobrar-se todo - mais uma vez - sem partir a coluna.
"Engulo o sapo com todo o gosto" dizem eles.
Dava jeito que antes de engolir fosse o que fosse começassem a falar com alguma propriedade. Começar por ver os jogos dos jogadores já seria um passo importante. Tirar as palas de jumento também dá sempre jeito.
Em Portugal existe uma palavra que define bem essa situação - preconceito. E isto não é um ataque a ninguém, no fundo todos nós temos enraizados alguns. Todos temos opinião, muitas vezes sem saber do que falamos, apenas porque ouvimos dizer.
Ainda me lembro de há alguns anos (infelizmente muitos) havia uma rapariga (haviam muitas, mas aquela tinha qualquer coisa), bonita, jeitosa, mas tinha um feitio do "caraças" (diziam os conhecedores do mundo). Confesso que também partilhava um pouco essa ideia, dada a altivez com que ela se pavoneava pelo polivalente fora.
Era impossível falar com ela.
Um dia estávamos na fila do Manuel Laranjeira para efetuar a matrícula do secundário, e coincidência da vida ela estava à minha frente.
Como aquilo estava demorado (antigamente matricular na escola era como entregar os papeis do IRS, tudo visto a pente fino), lá acabamos por meter conversa.
Inicialmente com uns monossílabos, uns queixumes, umas concordâncias e depois com umas frases mais completas (da parte dela, pois confesso que não conseguia tirar os olhos daquela minissaia).
Acabamos por ser atendidos quase em simultâneo e saímos do Liceu já quase em amena cavaqueira.
De conversa em riste lá descemos a 19 até à praia (para mim estava a ser uma tarde do outro mundo) e acabamos por vir embora, já com tudo combinado para o dia seguinte (nessa altura as ladies ainda não saiam à noite com o à vontade dos dias de hoje (infelizmente, ou talvez não).
Passamos um verão fantástico e acabamos a namorar até ao 12 ano (o pai dela era militar e seria colocado em Coimbra, onde ela iria estudar direito).
Ou seja a altivez era apenas timidez e uma forma de se proteger do mundo, simpática, inteligente, e continuou bonita e jeitosa.
O preconceito é uma coisa complicada.
Era importante que todos dessemos apenas opinião do que vemos e ouvimos e não do que outros viram e ouviram.