A questão das armas nos EUA é algo muito mal compreendido na Europa porque não possuímos o contexto cultural deles, que historicamente vê o direito de posse de armas como uma espécie de manifestação natural do seu direito à auto defesa, não só em relação a outros cidadãos do seu país mas também em relação ao seu governo se a dado momento pretendesse impor um regime contrário aos princípios da sua constituição. É algo que para um europeu comum soa a maluquice, mas isso é porque tudo o que é ideologia libertária é um corpo estranho à maioria do continente, os EUA são uma variante da nossa civilização, ou melhor são uma variante de uma civilização (Reino Unido) que é já de si uma variante da normal civilização europeia que tem países como a França como o seu arquétipo natural, a ideia que um cidadão particular possa desafiar o monopólio que o estado tem da violência (abrangida pela lei) é quase herética por aqui mas por lá é uma consequência natural do individualismo do classicismo liberal e dos direitos que eles acreditam possuir.
Depois obviamente há a discussão interna que eles lá fazem sobre o tema, com os republicanos a assumirem essa dimensão cultural especifica e um número cada vez maior dos democratas a quererem ser (tanto nisso como em todo o resto) como os europeus, no entanto creio que os EUA apesar de serem o país que detém claramente mais armas per capita, não são o que possui mais pessoas com licença de porte de armas, posso estar equivocado mas creio que a Suiça e o Canadá eram quem historicamente detinha maior percentagem da população com esse estatuto, mas talvez isso tenha se alterado desde os protestos violentos de 2020. A maior parte das armas dos EUA está na posse de uma pequena percentagem de colecionadores americanos, grande parte da população mesmo que suporte a 2ª emenda não possui licença de porte de armas, e a larga maioria das armas usadas em confrontos violentos são armas ilegais, umas roubadas de coleções particulares mas a maioria traficada pela fronteira com o México.
A questão de que tipo de armas é que devem ser legais e em que situações é permitido alguém andar armado fora da sua residência já é mais complexa e aí já se nota maior divisão mesmo dentro de quem apoia a 2ª emenda nos EUA, acho no entanto que todas estas discussões se vão tornar secundárias com a evolução das armas de fabrico caseiro via impressoras 3 D, será praticamente impossível controlar isso da mesma forma que é hoje impossível controlar a pirataria na internet a menos que tanto o estado americano como outros que se sintam ameaçados por esse fenómeno estejam dispostos a um cada vez maior policiamento da vida particular dos seus cidadão a níveis muito para além do que estamos habituados em democracias liberais, mas talvez seja mesmo esse o rumo irreversível da nossa civilização, será certamente na Europa onde não nos vejo aceitar de bom grado que se imprimam armas como hoje se imprimem fotocópias.