Falando da chamada extrema esquerda e da extrema direita e recuando ao 25 de Abril que eu viví de forma intensa. O 25 de Abril foi um movimento organizado por militares oficiais e milicianos que estavam saturados da guerra colonial que era uma espécie de guerra dos 100 anos de época longínqua sem fim à vista, o regime não aceitava negociar, não aceitava que nas colónias houvesse "ida a votos" não porque perdesse (no principio até ganharia essas eleições) mas porque abriria caminho à democracia e no continente teria que fazer o mesmo e o regime imposto por Salazar, agora sobre a batuta de Marcelo Caetano, acabaria por cair mais cedo ou mais tarde (as eleições falsificadas aquando de Humberto Delgado levaram Salazar a recuar e a nunca mais aceitar que houvesse tais eleições).
Portanto o 25 de Abril sob a batuta do chamado Movimento dos Capitães tinha como lema duas coisas fundamentais; DEMOCRATIZAR (ou seja fazer eleições livres) , DESCOLONIZAR . No início foi uma mar de rosas até â altura em que Spínola tentou reverter a descolonização e apelou à maioria silenciosa. Esse apelo foi um fiasco e teve que se demitir (ele não mandava, quem o colocou lá foi o MFA) e cedeu o poder a Costa Gomes talvez o General mais injustiçado da história dessa época - ficou-se na época com a ideia que era afeto aos comunistas o que se veio a verificar que era falso. Esse movimento de Spínola gerou o ascenso de forças de extrema direita que saíram muitos do País para organizar um golpe de Estado sob o comando do MDLP e depois o ELP. Nessa ocasião havia forças políticas desde o PCP a maoístas e basistas que aproveitaram a derrota de Spínola e tentaram fazer de Portugal um País de "socialimo real". Mas tivemos as eleições para as Constituintes e aí o voto do povo foi soberano; a maioria escolheu o PS e o na altura chamado PPD hoje PSD (para quem não sabe não foi PSD de início como queria Sá Carneiro porque antes de se registar já havia outro PSD e teve que adoptar outro nome). Aí emergiram movimentos que declaravam que o sentir do povo não estava apenas nas urnas mas nos movimentos de base, nas comissões de trabalhadores. Foi aí que Vasco Gonçalves apareceu com as nacionalizações (curiosamente ou não decidiu não nacionalizar nenhuma empresa ou banco estrangeiro) e o resto é conhecido. Tivemos um período conturbado de Março de 75 a Novembro de 75. Nessa altura digladiavam-se forças de extrema direita e da extrema esquerda em que aconteceram mortes, tivemos o chamado cerco ao Congresso do Palácio de Cristal do CDS onde não aconteceu um banho de sangue porque as negociações num anexo do Pavilhão (em que eu participei e fiquei/senti a saber com surpresa que Freitas do Amaral não era um fascista era uma pessoa decente e democrata cristão), o cerco terminou e ainda bem porque da Serra do Pilar vinham milhares de pessoas para se confrontarem com os manifestantes do cerco. Teria sido uma guerra fraticida porque de um lado e outro havia familias, irmãos, pais e filhos de ambos os lados. No dia seguinte as minhas convicções de maoísta tremeram mas ainda mantive a filiação e a ideologia.
Agora entrando no ponto parecido com o de ontem do Capitólio. Tivemos um cerco à Assembleia da República e aí desistí e abandonei. Mas a extrema esquerda compreendeu que tinha perdido a batalha e desandou do local. Cunhal também percebeu que a democracia um homem/mulher um voto tinha ganho a batalha. Até ao 25 de Novembro, dia muito complexo e ainda hoje difícil de explicar, continuaram as lutas entre a extrema esquerda e os democratas com a extrema direita à espreita para dar um golpe militar. Acabado o 25 de Abril tivemos aquele discurso muito importante do ideólogo do 25 de Abril Melo Antunes ao dizer que o PCP tinha o seu lugar na democracia tal como as outras forças da extrema esquerda desde que respeitassem a vontade popular. Nessa altura a extrema direita que queria o regresso ao regime totalitário perdeu a batalha, ainda sobreviveram durante algum tempo em compita com movimentos basistas (digamos uma esquerda não PCP nem maoístas) a que desgraçadamente Otelo se uníu. Mas a democracia venceu e com altos e baixos sobreviveu até hoje. Desde há mais de 15 anos as condições políticas, económicas e sociais são muito diferentes de um passado não muito longínquo, precisam-se novas políticas, novas soluções mas dentro da racionalidade, nunca da negação da ciência, das alterações climáticas que existem e precisam de medidas urgentes. Trump e Bolsonaro são os Hitlers, Mussolinis da atualidade. Têm que ser combatidos e desmontar as suas teses falsas e inócuas do futuro. Com a queda de Trump virá talvez um tempo de bonança mas a guerra nunca estará ganha sem que se compreenda a razão de onde vêm aquelas ideias e porque proliferaram. É preciso uma mudança urgente de políticas que resolvam os problemas da atualidade. Ir buscar compreensão desses factos no passado não resolve, a história nunca se repete da mesma forma, o mundo de hoje não é o mundo de há 75, 80 anos atrás para não falar do século XIX com a revolução industrial. É preciso muito debate, muita discussão para se encontrar um mundo mais respirável com milhões de pessoas a passarem fome e a viverem muito abaixo do limiar da pobreza. Se isto não for resolvido os problemas vão se agravar e o populismo neo fascista continuará por aí. Ele emergiu no fim da I Guerra Mundial devido a fatores semelhantes, tal como hoje temos a covid 19 eles tiveram a chamada gripe espanhola.