Estranho uma clivagem tão vincada acerca dos temas do confinamento, da economia, entre partidários das diferentes opções de resposta. O confinamento foi generalizadamente adoptado entre os países como resposta excepcional face a um problema para o qual não havia preparação. Desconhecia-se muito da doença, não existiam protocolos adequados, escasseavam recursos tão necessários quanto elementares como equipamento de protecção para o pessoal de saúde... todo o sistema teria de ser reajustado, sujeitando-se, caso contrário, à ruptura. Se a mortandade não foi tão elevada, muito se deve à forte resposta inicial. Teria sido bastante delicado reconfigurar os serviços enquanto os mesmos eram levados ao limite. Muitos países tomaram o caminho do confinamento, não se tratou de nenhuma ideia iluminada. A opção deve ser compreendida à luz destes factores, sem prejuízo de qualquer debate.
Dentro das suas possibilidades, os serviços de saúde devem atender a doentes covid e doentes não covid, não está em causa escolher entre um grupo ou outro, embora a gestão dos meios existentes implique escolhas com impactos na saúde e no acesso aos cuidados. Se o número de infectados aumentar descontroladamente, com o correspondente aumento da necessidade de cuidados, ... a mortalidade aumentará por incapacidade de resposta em ambos os grupos. Quem é mais vocal na defesa de medidas menos restritivas não deve por isso menorizar os riscos actuais. Mais infectados com covid significará, com considerável probabilidade, menor capacidade de resposta e mais mortos.
Não podemos deixar a economia definhar. Mas devemos questionar-nos sobre as consequências de contabilizarmos centenas de mortes todos os dias, num cenário mais funesto. Havendo grande temor e incerteza, talvez o comportamento e o sentimento geral das pessoas possa tornar-se imprevisível. Há que agir solidária e responsavelmente, fazer parte do esforço colectivo e tentar trilhar o caminho menos mau.