Há três anos em Inglaterra, Fernando está de saída do Manchester City.
Nesta entrevista ao DN reconhece que foi prejudicado com a entrada de Pep Guardiola e assume que em Portugal, neste momento, só jogaria no FC Porto, clube pelo qual venceu 13 troféus e que vê bem lançado para pôr um ponto final no jejum de títulos. Elogia Sérgio Conceição, reclama uma homenagem ao seu amigo Helton e deseja sorte aos futebolistas com ligações a Portugal que vão reforçar o Manchester City. Entretanto, espera por uma saída para a sua carreira e assume que aquilo que pode ser bom para o clube inglês pode não sê-lo para si a nível pessoal.
Está há três anos em Inglaterra e no Manchester City. Como tem sido a experiência?
Tem sido uma boa experiência, com algumas dificuldades que eu não escondo. Saí do Brasil para Portugal, dois países muito parecidos na língua, no clima, na comida, fatores que facilitam a adaptação. Em Inglaterra a língua é diferente, o clima é totalmente diferente. Claro que isso não justifica tudo, mas dificulta bastante. No entanto, tem sido muito bom, é uma experiência nova. Aprendi muito, apesar da idade, e continuo a aprender.
Não lamenta ter ganho apenas uma Taça da Liga nestes três anos? Estava habituado a ganhar muitos troféus com o FC Porto.
Quando falo em dificuldades também tem a ver com esse aspeto. Eu no FC Porto estava habituado a ganhar… foram 13 troféus. Saí para o Manchester City e só ganhei um. É muito pouco. Gostava de ter ganho mais, uns quatro pelo menos. Esse é um fator importante e eu gostava de ter conquistado mais títulos.
A Premier League é mesmo a melhor Liga do mundo?
Neste momento é. Repare, há muitos clubes bons e vários a disputar o título. E depois é a mais vista no mundo inteiro. Não tenho dúvidas, atualmente é a melhor liga do mundo.
Na última temporada foi apenas titular em dez encontros. A troca de Pelegrini por Guardiola não o favoreceu muito, pois não?
Eu já sabia que ia ser muito difícil com o Guardiola pelo estilo de jogo das equipas dele e pelas minhas características. Sabia que ia ser muito difícil para mim. Não correu como eu queria, mas também já estava à espera. Vamos ver neste ano para onde vou, tenho mais um ano de contrato.
Então vai sair do Manchester City?
O meu primeiro objetivo passa por sair para poder jogar. Não vale a pena ficar no Manchester City e não ser utilizado. Quero jogar e isso já comuniquei ao clube. Vamos esperar, o clube está à espera de uma boa proposta.
Nestes três anos que leva de Inglaterra teve alguma sondagem ou convite de algum clube português?
Não, nada.
Podia ter acontecido, até pelo que fez em Portugal…
Talvez pensem que seja difícil pelo nível em que eu estou e as equipas portuguesas não têm orçamentos semelhantes aos que se praticam em Inglaterra.
Admite representar em Portugal outro grande que não o FC Porto?
É sempre difícil falar sobre esse tema, porque tenho um enorme carinho pelo FC Porto, que é o clube pelo qual eu torço em Portugal. Mas sendo realista, nunca sabemos o dia de amanhã e não se pode fechar as portas a nada. No entanto, o clube pelo qual eu tenho carinho e que eu gosto é o FC Porto.
Até por estar de saída do Manchester City este é um tema atual. Mas se surgisse agora um convite do Benfica ou do Sporting, a sua resposta seria não?
Neste momento dizia que não.
Deixe-me fazer-lhe uma pequena provocação. Fala-se muito na possível saída do Danilo, que atua precisamente no seu lugar. Como vai deixar o Manchester City, o FC Porto seria uma boa solução para dar seguimento à sua carreira.
[risos] Olha, nunca fecho as portas, ao FC Porto muito menos. É o meu clube do coração, um grande clube, mas nunca se sabe. Se me perguntar se alguém do FC Porto contactou, comigo não houve nada. Mas nunca se sabe…
Mas admite que seria bom para si.
O FC Porto é bom para qualquer jogador pela grandeza que tem.
Tem convites em carteira?
Tenho várias opções por empréstimo, mas o Manchester City quer fazer uma venda definitiva e por isso está a dificultar porque sabe que eu tenho só mais um ano de contrato. Vamos ver.
O Manchester City está a pedir muito dinheiro?
Entre sete e oito milhões de euros. O clube que ofereceu uma verba pelos meus direitos foi o Galatasaray. O City quer vender-me, mas o que for bom para o clube pode não ser bom para mim. Não adianta ser bom apenas para uma parte, daí esta dificuldade em resolvermos este assunto. Até 31 de agosto tudo pode acontecer.
O Manchester City contratou o português Bernardo Silva e os brasileiros Ederson e Danilo. Como vê esta aposta em jogadores com ligações ao futebol português?
São três ótimos jogadores, todos conhecemos a qualidade de qualquer um deles. E sendo sincero, é inteiramente merecido. Pelo que já fizeram nas suas carreiras merecem esta oportunidade. E tenho a convicção de que vão vingar no Manchester City porque têm muito talento e qualidade.
Guardiola procurou informar-se consigo sobre algum destes jogadores, em especial sobre o Danilo, de quem foi companheiro no FC Porto?
Não, comigo não. Mas hoje toda a gente sabe tudo, há muita informação. Sabemos bem a época que o Bernardo Silva e o Ederson realizaram e da qualidade que o Danilo tem.
O Manchester City tem vindo a gastar muito dinheiro, a Premier League já investiu cerca de mil milhões de euros, e ainda falta um mês para o mercado fechar, fala-se que Neymar pode trocar o Barcelona pelo PSG por 222 milhões de euros. Isto está a atingir um patamar louco…
Se analisarmos bem, isto está a acontecer de há uns anos a esta parte. Atualmente o mercado é muito forte e quem vende pede cada vez mais dinheiro. E a tendência, na minha opinião, é para estes valores continuarem a aumentar.
Vamos falar um pouco do FC Porto. Desde que saiu do Dragão não voltou a conquistar qualquer troféu. O que é que se passa com o FC Porto? Quatro anos é muito tempo?
Muito tempo mesmo. Estamos a falar de um clube enorme, muito habituado a ganhar títulos e com adeptos bastante exigentes. É um período difícil aquele que o FC Porto está a passar, principalmente para os adeptos, mas isto, por vezes, acontece no futebol. Mas tenho o pressentimento de que o FC Porto vai ganhar de novo neste ano.
O FC Porto agora já não tem no seu plantel futebolistas muito titulados. O Helton, por exemplo, venceu sete títulos e saiu sem sequer uma homenagem. No seu entender era merecida?
Não acompanhei muito este processo, mas o Helton é uma excelente pessoa e um grande amigo que eu tenho. Na minha opinião merecia uma forma diferente de terminar a carreira. Foi um grande jogador, um grande capitão, um grande colega, uma pessoa espetacular de que todos no FC Porto gostam. Todos têm um carinho muito grande por ele e penso que merecia uma homenagem pelos títulos e pelos anos que passou no FC Porto.
O FC Porto ainda vai a tempo de lhe fazer esse reconhecimento?
Nunca é tarde para fazer uma homenagem, e o Helton merece, porque não foram muitos os que conquistaram aquilo que ele conquistou no FC Porto. O Helton tem o seu nome escrito na história do FC Porto.
O FC Porto agora é treinado por Sérgio Conceição. Tem acompanhado o seu trabalho?
Sérgio Conceição foi a melhor aposta que o FC Porto fez. É um treinador que conhece muito bem a casa, que está perfeitamente identificado com a filosofia do clube, e pelo estilo de jogo que costuma implementar nas suas equipas, na minha opinião, é o treinador certo e tem tudo para conseguir ser campeão.
Houve uma altura em que se falou muito da possibilidade de poder representar a seleção portuguesa de futebol…
Estive muito próximo mesmo de representar a seleção portuguesa, mas não foi possível porque já tinha disputado pelo Brasil o Campeonato Sul–Americano sub-20. Na altura não tinha um passaporte português e a FIFA entendeu que já tinha feito a minha escolha e que não podia representar mais nenhuma seleção a não ser a brasileira.
Quem é que da estrutura da Federação Portuguesa de Futebol fez força ou o convidou para jogar pela seleção nacional?
À época o treinador era o Paulo Bento, que estava a preparar o Mundial 2014.
Paulo Bento chegou a falar consigo?
Não, não, todos os contactos foram feitos através do meu empresário, António Araújo.
Não lhe passou pela cabeça quando Portugal venceu o Europeu que também podia estar naquele lote de jogadores campeões?
[silêncio] Pensei, claro, pela oportunidade que tive, mas não me arrependo de nada e julgo que tenho feito bem as coisas. Estou contente em Inglaterra, estou muito satisfeito pelo que fiz em Portugal, e a verdade é que vemos sempre que podíamos ter tomado outras opções, mas fiquei muito feliz por ver Portugal campeão europeu e posso dizer que sofri bastante, até porque sinto que foi muito merecido esse título.
fonte: dn.pt