Fernando Madureira afirmou ter enriquecido através do sector imobiliário. Durante a sua detenção, disse ao juiz Pedro Miguel Vieira que vendeu um edifício na Batalha, no Porto, por um milhão e meio de euros, repartindo a quantia com o sogro. Alega também ser proprietário de um alojamento local que avalia em três milhões de euros. Além disso, está a construir uma casa avaliada em dois milhões em Vila Nova de Gaia, que pretendia vender a um jogador do FC Porto.
Vítor ‘Catão’, um dos principais arguidos, apresentou uma versão distinta. No seu depoimento, que prestou dias antes da acusação, acusou ‘Macaco’ de ter interesses na assembleia do Futebol Clube do Porto. “Ele queria obter mais lucro com os bilhetes, toda a gente sabe que isto é verdade. Quem é que ia lucrar? Quem é que ia ganhar milhões? Era o senhor Fernando Madureira. E, claro, os dirigentes do FC Porto”, afirmou o adepto, que é um dos doze acusados pelo Ministério Público.
Um dos dirigentes que, segundo ‘Catão’, beneficiava, é Adelino Caldeira, ex-administrador da SAD do Porto. “O Adelino Caldeira possui um escritório de advogados, e quando o escritório trabalha para o FC Porto, ele é o diretor da SAD do Porto. Se forem consultar o relatório de contas, Caldeira recebeu 50 milhões de euros por serviços prestados ao Porto. Eu não sou louco”, prosseguiu.
Relativamente à assembleia de 13 de novembro de 2023, ‘Catão’ disse que nunca imaginou que iriam ocorrer agressões e que se encostou a um canto por medo. “Ouvi muitas provocações. Na bancada de cima ocorreram agressões”, relatou, mencionando que ‘Macaco’ incitou os ânimos.
Quanto a Sandra Madureira, ‘Catão’ afirmou que apenas a ouviu a proferir insultos. “Ela dizia que os que apoiavam o Villas-Boas eram uns filhos da p… e uns malandros”, recordou ‘Catão’, que “receia pela sua vida”. “Tenho medo que me matem. Peço que me deixem em casa, três, quatro, cinco, dez anos, até eu morrer, não me importo. Sei que se um dia eu for para uma prisão, eles vão-me matar. Sei do ódio que me têm, é que fui eu que espalhei toda esta questão de ‘comer’ bilhetes”, explicou.
“Não fui porque tinha reunião de condomínio”
Durante o seu interrogatório, a procuradora apresentou a ‘Catão’ um vídeo de 17 de janeiro, no qual se filmou quem entrava para a apresentação da candidatura de André Villas-Boas na Alfândega do Porto. Também aqui, o adepto apresentou uma versão alternativa dos acontecimentos. “Fiquei muito contente por estar lá. Até o Jorge Costa me convidou a entrar, apenas não fui porque tinha uma reunião de condomínio muito importante. Se não fosse isso, teria ido de boa vontade”, afirmou.
PEDIU PARA ARRANJAR 100 SÓCIOS
Na sua audição, ‘Catão’ disse que ‘Macaco’ se aproximou dele devido à sua alegada fama nas redes sociais. Depois, explicou que o então líder da claque lhe pediu para arranjar “cem pessoas” para a assembleia.
DIZIA SEMPRE QUE SIM A ‘MACACO’
O conhecido adepto afirmou que nunca teve a intenção de arranjar pessoas, mas que dizia sempre “sim” e “amém” a Madureira. Explicou que era necessário levar sócios que apoiassem Pinto da Costa para que votassem a favor da aprovação dos estatutos.
DOZE ARGUIDOS
A acusação do Ministério Público do Porto foi deduzida contra doze arguidos. Todos respondem em coautoria por 31 crimes, devido às agressões e ameaças na assembleia de 13 de novembro. O Futebol Clube do Porto também se constituiu assistente e apresentou um pedido de indemnização no valor de 5 milhões de euros.
Abertura de instrução
Os arguidos agora podem solicitar a abertura de instrução para contestar parte ou até toda a acusação. Nesta fase, podem ser apresentados novos meios de prova.
MANTIDAS
Pouco depois da dedução da acusação, uma juíza de instrução decidiu manter Fernando Madureira em prisão preventiva e ‘Catão’ em prisão domiciliária. Foi considerado que ainda existe risco de pressão sobre as testemunhas.