As eleições do FC Porto são em 2024, mas a corrida já começou para alguns. Aqui fica o primeiro ensaio sobre os candidatos a candidato.
Artigo de Opinião: Pedro Barbosa, Empresário, Docente Universitário, Associado do FC Porto.
Assim e para pontapé de saída e esta temática decidi fazer uma análise do que considero serem os dez candidatos a candidato, sem nesta fase ter qualquer informação especial ou estudo de mercado. Portanto, a análise que faço dos candidatos vale apenas como uma opinião pessoal, mas dá também contexto à complexidade que se aproxima. O mais provável é termos 4 a 7 candidatos nas próximas eleições, mesmo que Pinto da Costa volte a ir a jogo. E se hoje André Villas Boas é o mais falado apesar
de nem ir aos jogos no estádio, muito irá mudar ao longo dos próximos 24 meses, com variadíssimos players a influenciarem o jogo. Porque além destes dez candidatos a candidato, há pelo menos outros tantos jokers, importantes para cada candidato. De Fernando Madureira a Adelino Caldeira, de Pepe a Sérgio Conceição, os jokers serão falados noutro artigo, mais lá para a frente.
A cada três meses pretendo reescrever este artigo com aquilo que considero as tendências de probabilidade de candidatura e de vitória de cada pessoa, de forma a podermos ver a evolução, não deixando nunca de ser uma visão pessoal.
Depois de 40 anos de sucessos, chegou a altura de preparar o futuro. Quem é a pessoa ideal para a liderar? A verdade é que ninguém sabe o que os portistas querem, ainda. De seguida, um ensaio sobre os candidatos a candidato.
NUNO LOBO
Foi um dos candidatos às últimas eleições e disse há semanas publicamente que poderia candidatar-se. Lobo teve 4,9% dos votos em 2020, depois de prometer o regresso do voleibol, a criação do futsal e uma academia. Secundado por Amaro Correia e personalidades como Francisco Ramos e António Nunes, este é um candidato que deverá mesmo ir a jogo, mesmo tendo poucas hipóteses de vencer. Com mais
presença nas audiências mais sociais e do interior da cidade, terá menos ligações às casas do FC Porto e terá dificuldades óbvias em possíveis soluções de financiamento.
Apesar das eleições o terem projectado, continua com uma notoriedade baixa comparado com alguns potenciais concorrentes.
Candidata-se (0-10) : 7
Pode ganhar (0-10) : 1
JOSÉ FERNANDO RIO
Outro dos candidatos às eleições de 2020 contra Pinto da Costa, em que conseguiu 26% dos votos, e que tem estado ativo desde que a época terminou, criticando (muito suavemente) o actual presidente. Não se terá manifestado quanto à sua candidatura às próximas eleições de forma direta, não está claro o próximo movimento, mas acredito que não se candidate. Se há alguma coisa que o destaca é ter sempre Sérgio Conceição no centro do seu pitch de forma omnipresente. Advogado e comentador desportivo – e primo de Ricardo Rio, presidente da CM Braga – , faz um jogo de se colocar do lado de PdC (“uma referência e um ídolo”) e do lado contrário em momentos complementares, procurando construir uma imagem de alternativa sem provocar fricções desnecessárias e as consequentes críticas dos que continuam alinhados com a atual direcção.
Candidata-se (0-10) : 3
Pode ganhar (0-10) : 3
VITOR BAÍA
Um dos mais galardoados jogadores de sempre do FC Porto, é o único membro da actual SAD que se parece vislumbrar como joker para a próxima candidatura, apenas se o presidente actual não for a jogo e o apoiar, mesmo que indiretamente. Este é um cenário que, eventualmente, se pode por no caso da actual SAD entender que seria conveniente o próximo mandato ter alguma continuidade sobre o actual, mas sem Pinto da Costa . É preciso não esquecer que em 2016 Baía era uma voz ativa contra a actual
SAD e a sua inflexão não cai bem a todos. Por outro lado, Baía – que tem nas redes sociais algum potencial de marketing – não terá sabido gerir a sua fortuna pessoal, o que faz duvidar muitos portistas da sua capacidade de gestão. Mesmo com o aval de Pinto da Costa, Baía teria de ter provavelmente uma equipa com gestores muito bons para poder ter sucesso, da eleição à execução. Baía teve algumas noticias negativas recentemente, apesar de uma sondagem positiva. Por outro lado, por natureza sofre do mesmo problema de Villas Boas e Sérgio Conceição: bons jogadores ou treinadores não são necessariamente bons gestores e raramente bons presidentes.
Candidata-se (0-10) : 4
Pode ganhar (0-10) : 5
VILLAS BOAS
Já terá decidido candidatar-se e diz-se que pode estar acompanhado de Antero Henrique, o que quando questionado nunca desmentiu. Há quem o associe também a Adelino Caldeira, de forma menos direta, mas não está claro onde começa e acaba a rede de influência de Villas Boas, que tem estado a procurar preparar o universo portista, sem nunca beliscar a actual direcção e o presidente. O ex treinador de sucesso ficou famoso por se afirmar primeiro na cadeira de sonho e se render aos milhões da Premier League logo depois, o que continua a deixar muitos portistas preocupados. Já manifestou o seu sonho da presidência, assim como a intenção de se candidatar, reunindo apoios na base, mas tem também muita gente desconfiada, tanto pela provável ligação a Antero Henrique, como por dúvidas pela gestão- tem apenas provas como treinador.
Alguns setores ligados à base de apoio preferiam um candidato habituado a gerir pessoas, projectos, empresas, e sobretudo capacidade de levantar o dinheiro que permita construir futuro. AVB parte com a vantagem de quem arranca primeiro e tem todo o tempo do dia para planear cada tweet, cada post, cada foto de família mas penso que pode faltar-lhe a coragem que Lobo, Koehler ou Fernando Rio já mostraram ter, caso o actual presidente decida voltar a candidatar-se. Já se percebeu que a opção AVB não parece agradar muito ao presidente, e isso pode condicionar na hora da verdade – embora o tempo possa mudar tudo. Por outro lado, tem gozado de parecer presidenciável por estar sozinho, há muito tempo, a dizer que quer ser presidente, apesar de preferir automobilismo a ver os jogos do FC Porto , a que, ao que se sabe, raramente assiste presencialmente. Mesmo assim, Villas Boas é um candidato
com potencial e que não pode ser desconsiderado como um dos mais prováveis próximos presidentes. Contudo, saber como não ter Pinto da Costa contra si no momento ideal será uma das artes que terá de saber superar, além de só se ter afirmado como treinador até hoje.
Candidata-se (0-10) : 9
Pode ganhar (0-10) : 7
PINTO DA COSTA
A esmagadora maioria dos portistas entende que este é o seu último mandato, mas ninguém sabe verdadeiramente se não se recandidatará, como sempre tem feito. Tão depressa pode não acabar o mandato, como pode recandidatar-se. Houve quem apostasse que os pressões jurídicas, adicionadas a problemas de saúde e do estado financeiro do clube o afastaram ainda antes do fim deste ciclo 20/24, mas resiliência tem sido uma arma omnipresente no actual presidente. As últimas eleições mostraram
contudo o seu desgaste junto dos sócios (ganhou com pouco mais que 60% contra dois candidatos com menos força no eleitorado portista do que outros que podem agora concorrer), pelo que concorrer actualmente pode não acabar com vitória, a menos que existam demasiadas listas. Uma disputa a dois ou três contra pelo menos um dos candidatos mais fortes, como Moreira, Villas Boas, Fernando Gomes ou Koehler, pode acabar em surpresa, e o próprio presidente, astuto e com uma enorme capacidade de
intuição, saberá isto melhor que ninguém, a menos que muitas coisas mudem nos próximos dois anos.
Hoje, os sócios sabem que há esta sensação de receio sobre o futuro, que incomoda e inquieta, e o desgaste da gestão financeira dos últimos anos só tem sido atenuada com alguns sucessos desportivos, que adiam fricções ainda maiores.
Mas há, sempre no caso meramente hipotético, um cenário de continuidade que pode estar na gaveta secreta do presidente: ir a votos, ganhar e passar a pasta interinamente mais tarde, controlando o próximo ciclo com maior tranquilidade. Seja como for, muitos portistas entendem que foi o melhor presidente, mas que está na altura de sair e todos querem também que saia, como merece, pela porta da frente, ovacionado por portistas e portugueses de boa fé.
Candidata-se (0-10) : 5
Pode ganhar (0-10) : 8
RUI MOREIRA
O atual presidente da Câmara do Porto está habituado a ser outsider em eleições, concorrer como alternativa, e ganhar. Mas o FCP não é a cidade e suceder a Pinto da Costa não é como suceder a Rui Rio. Rui Moreira estará em final de mandato em 2024 e já foi deixando cair a ideia de se candidatar em alguns círculos mais privados, mas está a gerir o timing de uma forma diferente de Villas Boas, que tem todo o tempo até 2024 para “esperar pelo seu momento”. Moreira entende que é cedo, não lhe ficaria muito bem concentrar-se nestes assuntos e com a cidade por gerir. Com uma elevada notoriedade, Moreira é um dos principais candidatos, tendo a seu favor a sua ligação com o clube, a relação com o actual presidente, o passado como comentador desportivo no Trio de Ataque e estar ligado a eleições de sucesso. Contra si tem a ausência de experiência no futebol e a eventual falta de acesso aos grandes mercados de capitais, essenciais para o financiamento. Pode também ter sido um pouco beliscado do processo Selminho, o tempo o dirá. Moreira provavelmente não se vai candidatar contra Pinto da Costa (eventualmente, só mesmo Lobo, Koehler ou Fernando Gomes o farão), mas se este não for a jogo como todos esperam, e apesar de estar a estudar alternativas noutros ambientes políticos mais europeus, continua a ser candidato a candidato com alguma probabilidade, mas precisaria sempre de grandes ajudas e parcerias para poder vencer.
Candidata-se (0-10) : 6
Pode ganhar (0-10) : 6
SÉRGIO CONCEIÇÃO
Um dos poucos candidatos a candidato de que não se fala é Sérgio. Na realidade, é tão presidenciável como Villas Boas ou mais ainda, que Sérgio fez tudo o que André fez e nunca quis sair. Jogou e treinou o clube e tem um aumento de poder de influência a todos os níveis que mais ninguém parece ter abaixo do presidente, mesmo apesar do episódio Francisco. Falta saber se quer e se consegue reunir o que lhe falta – uma equipa. Há que dizer que no caso de Sérgio, ir à presidência significa abdicar de uma
carreira de sucesso em clubes de primeiro nível europeu, além de muitos milhões – e isso parece hoje improvável. Estará Sérgio preparado para abdicar de ser treinador do FC Porto ou mesmo de um colosso europeu, para arriscar um processo cujo desfecho nem sabemos se quer, e que também não pode controlar tão bem? Duvido. No entanto, parece evidente que esse é o desafio dos 10 candidatos a candidato, não exclusivo de Sérgio. Também parece evidente que Sérgio é o aliado mais importante para todos, em particular para os potenciais Koehler e Rui Moreira, caso não se candidate. É no entanto muito cedo para Sérgio e ganhar o campeonato de 2023 será um evento crítico para que tudo isto se materialize em probabilidade.
Candidata-se (0-10) : 2
Pode ganhar (0-10) : 7
FERNANDO GOMES (FPF)
Economista e ex-jogador de basquetebol do clube, tendo entrado na direcção de Pinto da Costa em 92, evoluindo depois para vice presidente na área do Marketing, tendo criado as bases do Porto Comercial. Mais tarde, foi nomeado director geral do clube e administrador da SAD, ainda nos tempos do G14, tendo representado o FCP nas mais altas instâncias europeias. Com 70 anos de idade e mais de 40 ao serviço do desporto, está há uma década a frente da Federação Portuguesa de Futebol. Depois de o ter criticado por ter “destruído a Liga”, Pinto da Costa ter elogiado Fernando Gomes, tendo referido já neste mandato que FG daria um excelente secretário de estado do desporto.
Ninguém pode esquecer os grandes e inéditos êxitos da selecção portuguesa. Não tenho conhecimento de movimentações de Fernando Gomes da Silva na direcção do FC Porto, mas será um dos candidatos com mais potencial, pelo seu conhecimento em gestão, experiência no futebol e ligação passada ao clube. Por outro lado, nunca liderou empresas, tem uma idade quiçá avançada para começar neste cargo e está longe do epicentro da nação portista, sendo crucial, caso queira fazer esse caminho, descobrir a equipa perfeita.
Candidata-se (0-10) : 5
Pode ganhar (0-10) : 7
ANTÓNIO OLIVEIRA
Oliveira foi um mítico jogador do clube nos anos 70, tendo saído do clube aquando da tensões entre Pinto da Costa e o Américo Sá, na luta pelo poder do clube. Com 70 anos de idade e accionista de referência do clube (terá cerca de 7%, e o seu irmão outros 7%), tem sido sempre apontado por Pinto da Costa como alguém “com legitimidade para se candidatar”, que é muito habitual acontecer quando o Presidente quer desviar a atenção de outros candidatos, ou de algum tema interno da gestão atual
do clube. Certo é que Oliveira, que foi jogador e treinador de sucesso e entregou ao FCP títulos tanto a jogar como a treinar. Portanto, se Sérgio ou André podem ser opções, que dizer de Oliveira, que além de treinador e jogador, também é investidor e empresário e ainda se licenciou em direito depois dos 50? É provável que seja tarde para Oliveira, assim como para Fernando Gomes, mas é possível que muitos dos
eleitores queiram experiência e pouco risco na hora de decidir. Recorde-se que António Oliveira se candidatou à Câmara de Gaia, para pouco depois decidir em resultado de divergências internas no partido, pelo que parece menos provável a continuidade na carreira política. Mas não podemos esquecer que é o único com experiência de presidente (Penafiel), além de muito conhecimento no mundo do futebol. Para suceder a Pinto da Costa, qualquer opção apresenta hoje risco, portanto o ideal é ter pessoas na equipa que tenham experiência de gestão, experiência de futebol, entendimento de
marketing moderno e de digital e acesso a capitais. Oliveira tem algumas destas, mas estará longe de outras, precisando de aliados de peso para fazer este caminho. Mas sobretudo, terá de querer.
Candidata-se (0-10) : 3
Pode ganhar (0-10) : 7
JOÃO RAFAEL KOEHLER
De uma família de históricos portistas que contam ex jogadores do clube, Koehler tem-se afirmado como portista, sócio, adepto, accionista e investidor, mas ainda não candidato. Com 48 anos, Koehler é licenciado em direito, mas exerce funções como empresário e investidor nas áreas de indústria e tecnologia. Além disso, tem sido um dos recursos privados do clube para ajudar a encontrar dinheiro para momentos mais difíceis, não só com recursos à fortuna pessoal, mas também pelo acesso aos
mercados e a financiamento credível, importante para o presente, mas crucial para o futuro. Conhecido como um dos sharks (programa shark tank) e próximo de outras famílias de investidores, foi presidente da ANJE (associação nacional de jovens empresários).
Próximo de personalidades como Mário Ferreira ou Manuel Serrão, foi sondado para se candidatar em 2020, mas terá entendido que não era o momento, tendo sido o único a criticar ativamente a gestão da Direcção, tanto no plano financeiro, como no tema do nepotismo. Mais do que candidato a candidato, Koehler estará interessado em garantir a melhor solução para o clube, sendo o único que tem tido a coragem de criticar a atual SAD nos momentos certos, e não nos momentos de agenda própria. Poderá muito bem ser candidato – e para isso precisará de uma equipa para o futebol, dado que no marketing, gestão e acesso a financiamento tem as suas melhores armas – mas poderá também fazer parte de uma equipa vencedora em formato a definir, ou outra solução que entretanto se desenhe, mas fica claro que no aspeto de gestão é o candidato mais forte e de acesso financeiro é o único candidato com rede, credibilidade e acesso para superar o estado lastimável do clube e, talvez por isso, nenhum outro candidato o vai querer muito longe.
Candidata-se (0-10) : 6
Pode ganhar (0-10) : 7
Artigo de Opinião: Pedro Barbosa, Empresário, Docente Universitário, Associado do FC Porto.