A CMVM chumbou a OPA do Benfica, apurou a TVI em primeira mão. O clube já foi notificado da decisão e teoricamente ainda poderá refazer a operação. Mas para isso terá de ultrapassar uma irregularidade detectada pelo regulador da Bolsa, que pode aliás mais tarde multar os encarnados, por não não ter comunicado informação ao mercado.
Na prática, o clube queria pagar a compra das ações da SAD com dinheiro da própria SAD.
Em causa está o modelo de financiamento da OPA: primeiro, o clube passava a cobrar rendas mais elevadas à SAD pela utilização do estádio, de que é dona; segundo, o clube antecipava o recebimento de vários anos dessa receita. Desta forma, o dinheiro saía da SAD para o clube, que depois usaria esse dinheiro para comprar as ações da SAD.
A operação não é em si ilegal, mas é irregular em contexto de OPA, oferta pública de aquisição de ações. Além disso, a decisão teria de ser obrigatoriamente comunicada aos investidores, não o tendo sido. É por isso que a CMVM vai obrigar a SAD a fazer um comunicado ao mercado informando sobre as condições deste negócio entre o clube e a SAD. Mais tarde, o regulador pode impor o pagamento de uma multa ao Benfica por ter falhado essa comunicação atempada.
Embora esta decisão da CMVM possa ainda ser ultrapassada pelo Benfica, ela deverá significar a morte da operação, até porque notícias dos últimos dias, quando o clube já tinha sido questionado pela CMVM sobre estas irregularidades, davam conta da vontade de o clube desistir da operação. Depois dessas notícias do fim de semana, as ações do Benfica caíam esta manhã para 2,7 euros e a sua negociação foi interrompida.
A cotação de hoje é muito abaixo dos cinco euros oferecidos na OPA lançada em novembro passado, o que mostra que o mercado já acreditava pouco no sucesso da operação. A operação custaria ao Benfica cerca de 32 milhões de euros.
Este desfecho ocorre depois de três meses e meio de contactos entre a CMVM e o Benfica. Em causa chegaram a estar também questões relacionadas com conflitos de interesses, nomeadamente pela existência de negócios entre Luís Filipe Vieira e José António Santos, que é também o maior acionista individual da SAD.
Questionada, fonte oficial da CMVM remeteu para comunicado de hoje sobre a suspensão das ações, no qual diz que aguarda publicação de informação pelo Benfica ao mercado. Contactado, o Benfica não esteve ainda disponível para comentários.