Num balneário onde a média de idades anda na casa dos 25 anos e onde as referências não abundam, Casillas assume-se como um dos líderes do FC Porto pelos exemplos que vai dando. O espanhol é o pior cliente do departamento médico, uma vez que nunca apresentou queixas que justificassem uma paragem, e nunca falhou um treino. Nem mesmo quando se encontrava autorizado pelo treinador a permanecer no ginásio, pelo facto de ter jogado no dia anterior. Os que se seguiram às derrotas com o Dínamo Kiev, o Sporting e o Tondela, todos na última época (os da atual são fechados), servem de prova. A isso junta uma voz ativa sempre que há reuniões de equipa. E em 2015/16 não foram assim tão poucas quanto isso, devido ao mau momento que os portistas atravessaram na segunda metade da temporada.
O estatuto internacional que conquistou ao serviço do Real Madrid e da seleção espanhola ainda é uma barreira psicológica que os mais jovens, principalmente os que aqui e ali vão sendo chamados da equipa B, não se atrevem a atravessar. No entanto, Iker faz questão de derrubá-la à primeira oportunidade. Com isso, conquistou o respeito e a admiração dos companheiros, mesmo aqueles que com ele disputam um lugar. Foi o caso, por exemplo, de Helton. “Ele respeitou quem já cá estava, que era eu. Agradeço com muito orgulho o respeito que ele teve”, referiu o então capitão dos azuis e brancos, em vésperas da final da Taça de Portugal, na qual realizou uma exibição para esquecer. Um momento que Iker não deixou passar em claro, dirigindo-se, ainda no relvado do Jamor, ao companheiro para o tentar confortar.
“Bocas” a Layún e Suk conselhos a Aboubakar
A postura que Casillas adotou desde que chegou já foi elogiada por quase todos no plantel. Óliver foi só o último a revelar como ficou impressionado com as capacidades humanas do “Santo”, que faz distinções entre os companheiros. É verdade que passa mais tempo com os “clãs” espanhol ou mexicano, por partilhar o mesmo idioma, mas no dia a dia procura falar e brincar com todos. Quando Rúben Neves foi capitão pela primeira, por exemplo, fechou-lhe a porta de acesso aos balneários e o médio acabou por entrar no relvado sozinho, para gargalhada de quem se encontrava mais próximo. Layún e Suk já foram alvo de “bocas” do guarda-redes nas redes sociais e a dirigida ao sul-coreano até o meteu em trabalhos, uma vez que muitos seguidores do avançado chegaram ao ponto de a considerar racista.
Pelos laços que foi criando ao longo desta época e meia de Dragão, Casillas foi muitas vezes procurado por outros jogadores em momentos menos bons. Afinal, o guarda-redes também os teve no Real Madrid – foram uma das razões que levaram à sua saída – e sabe bem o que é estar com o moral em baixo. Ainda em agosto os jornalistas puderam presenciar uma conversa isolada entre o espanhol e Aboubakar, quando este se encontrava numa situação difícil, sem qualquer minuto de utilização e o futuro ainda em aberto. Atitudes que caem bem em quem trabalha diretamente com ele (jogadores e treinadores) e que levam a que, a par dos quatro capitães, seja um dos elementos mais respeitados por todos.
Publicamente sem medo de colocar o dedo nas feridas
Casillas não está preocupado com o politicamente correto nas intervenções públicas e dá o peito às balas no momento de assumir os fracassos coletivos. Sobre a última temporada, por exemplo, já disse numa intervenção no Facebook ter sido “calamitosa”. E após a derrota com o Leicester, em Inglaterra, pôs o dedo na ferida e avisou que os encontros com o Brugge determinariam o futuro do FC Porto na Liga dos Campeões.
(fonte: ojogo.pt)