Vítor Pereira, treinador que conquistou títulos com o FC Porto, participou numa entrevista onde discutiu a situação atual dos Dragões.
Qual é a sua opinião sobre a revolução que está a acontecer no FC Porto?
O FC Porto está a passar por algumas mudanças. O clube perdeu dois avançados de referência, possui recursos limitados, mas apresenta uma energia e uma dinâmica que parecem promissoras. O enfoque está a ser colocado na formação, e é fundamental que os clubes sigam por esse caminho. Não faz sentido investir nas academias e depois beneficiar outros clubes. Se um clube se dedica durante anos a investir na sua academia, é necessário que colha os frutos desse esforço. Contudo, é imprescindível que haja espaço para que isso se concretize. É necessário que os jovens tenham a oportunidade de se integrar na equipa principal. O FC Porto reconheceu isso e está agora a seguir esse caminho, que é tanto bonito quanto adequado.
Contudo, esse investimento em jovens na equipa principal requer tempo, e os adeptos do FC Porto são bastante exigentes, habituados a vencer. Acredita que os adeptos terão a paciência para esperar o tempo necessário?
Eu prefiro um investimento robusto em 14 jogadores que já tenham experiência, e que o restante do plantel seja composto por jovens com talento que apenas precisam de ser integrados no momento oportuno. Se o FC Porto seguir esta estratégia, certamente competirá por títulos. Relativamente aos adeptos, no meu tempo a situação era mais complicada. Um jogo que me ficou na memória foi uma vitória por 5-0 sobre o Nacional em casa, onde dominámos a partida, mas fomos assobiados. Após a minha saída, o clube ficou quatro anos sem vencer nada. Por isso, os adeptos estão agora mais preparados para encontrar um equilíbrio. Eles estão cientes de que o FC Porto está a reorganizar-se de uma forma diferente e que precisam de ter paciência. Os jovens precisam de tempo e de paciência. Quando têm essa paciência e, se possuem qualidade, acabam por se fortalecer.
Como é que percebeu a reorganização do FC Porto enquanto clube, com a saída de Pinto da Costa e a entrada de André Villas-Boas?
Os tempos mudam. Naturalmente, os clubes evoluem e alteram a sua forma de liderança. Tivemos um presidente que teve um papel fundamental no clube, que conseguiu transformar uma instituição regional numa referência mundial, com títulos e reconhecimentos internacionais. No entanto, o futebol está em constante evolução, o presidente é um ser humano que envelhece, e a mudança é um processo natural. Surgem novos dirigentes com novas ideias. É a lei da vida. Contudo, penso que a mudança poderia ter sido realizada de uma forma diferente.
De uma forma mais pacífica?
Sim, de uma forma mais pacífica, com o presidente a sair da maneira correta e com o respeito que merecia. A entrada do André também deveria ter sido feita de forma pacífica. No entanto, essa situação não se concretizou, os sócios decidiram e agora é necessário dar tempo para que o trabalho produza resultados. Os adeptos têm de entender que, neste momento, o FC Porto está de facto em transição.