O resultado habitual com direito a reviravolta.
O Fc Porto entrou com o pé direito na temporada 2016/17. Os dragões repetiram o 3-1, resultado que se regista pela 4ª vez consecutiva, em Vila do Conde, em partidas a contar para o campeonato.
A exibição não foi de encher o olho mas o mais importante foi conseguido: a vitória, os três pontos. A “cambalhota” no marcador pode ser um indicador da diferença para o passado recente. O grupo parece mais unido, mais coeso, mais solidário. As restantes conclusões ficarão para o final deste texto.
Onzes iniciais:
Rio Ave – Cássio; Nadjack, Roderick, Marcelo, Pedrinho; Wakaso, Tarantini, Pedro Moreira, Rúben Ribeiro; Gil Dias e Heldon.
Fc Porto – Casillas, Maxi, Felipe, Marcano, Alex Telles; Danilo, Herrera, André André; Corona, André Silva e Otávio.
O jogo foi disputado, desde o início, com muita intensidade. Partida muito competitiva, muito empenho dos jogadores de ambas as equipas, cada lance, cada metro tinha de ser “conquistado”. Muito coração mas pouco esclarecimento e poucas ideias dos dois lados.
O Rio Ave, agora orientado por Capucho, apostou num 4-4-2 losango. Wakaso era o trinco, Tarantino fechava o lado direito, Pedro Moreira sobre a esquerda, Rúben Ribeiro a 10. A dupla da frente era formada por dois jogadores bastante móveis: Gil Dias (grande promessa) e Heldon.
O objectivo da formação local era não deixar jogar o Porto. Para além de colocar muita agressividade (no bom sentido) em cada lance, existiu uma forte preocupação em anular ou reduzir o raio de acção de Otávio. Capucho percebeu a importância do brasileiro no jogo do Fc Porto e colocava na sua zona o lateral direito Nadjack (nome inscrito na camisola), o trinco e o médio direito (Tarantini). Cabia a estes três homens anular o n.º 10 “oculto” dos portistas.
Nuno Espírito Santo deu continuidade ao sistema e modelo de jogo apresentado nos últimos jogos de pré-época (Guimarães e Villarreal). Um 4x3x3 dinâmico a meio-campo, com Herrera muitas vezes a vir buscar jogo e formar dupla com Danilo (4x2x3x1). Outro movimento bastante utilizado foi Otávio partir do corredor e vir para dentro para a posição 10, onde assume o papel de distribuidor e criativo da equipa. Este movimento permite alguma liberdade a André André, Corona a aparecer na esquerda ou a subida do lateral pelo flanco, Alex Telles no caso.
O Rio Ave, por força da sua vontade e intensidade, conseguia equilibrar as operações a meio-campo. O Porto, por sua vez, não conseguia jogar, a circulação de bola era feita sempre com muita dificuldade. Apesar disto, a primeira situação de perigo pertenceu ao Porto: passe de André André a isolar André Silva mas o lance foi cortado por um defesa vila-condense (5 minutos).
A toada do jogo manteve-se até aos 35 minutos, sensivelmente. Equilíbrio, jogo “rasgadinho”, Porto a não privilegiar a posse de bola e a apostar nos lançamentos em profundida. Em regra, de Otávio para André Silva.
Nota para os amarelos escusados de Alex Telles (21 minutos) e Felipe (32’). Nos dois lances, houve clara precipitação dos defesas brasileiros.
Precisamente aos 35 minutos, surgiu o golo do Rio Ave. Apesar da boa atitude dos locais, a verdade é que o Rio Ave não tinha conseguido criar perigo junto da baliza de Casillas. Mas na marcação de um canto (cobrado por Heldon), Marcelo saltou mais alto do que Felipe e André Silva. Porto defende à zona nos cantos e o defesa central do Rio Ave apareceu de rompante ao primeiro poste, no espaço existente entre o defesa brasileiro e o jovem avançado portista.
O 1-0 castigava o Porto. Felizmente que a desvantagem não durou muito.
Com efeito, aos 39’, Corona repunha a igualdade e a justiça no marcador. Lance começa com uma boa abertura de Herrera para a esquerda, Alex Telles cruza, a bola sofre um desvio em Nadjack, André Silva ganha nas alturas aos dois centrais do Rio Ave (Roderick e Marcelo), a bola sobra para Corona que de primeira rematou para o fundo da baliza de Cássio.
Dois minutos depois, 41’, lançamento em profundidade de Danilo para Corona que domina a bola na perfeição e remata ao poste!
Porto terminava a 1ª parte em bom plano. O susto do golo do Rio Ave rapidamente transformou-se numa pequena euforia, devido ao curto espaço de tempo entre o tento de Marcelo e o golo de Corona.
O empate ao intervalo era um resultado justo. Como já referi, a nota dominante foi o equilíbrio e a intensidade a que o jogo foi disputado, em detrimento de alguma qualidade.
Até pela forma como terminou a 1ª parte, esperava-se um Porto dominador no segundo tempo. Mas não foi bem assim, ou melhor, a 2ª parte não começou desta forma.
A etapa complementar começou exactamente na mesma toada dos 35 minutos iniciais. Equilíbrio, intensidade, Rio Ave a não deixar jogar o Porto.
Só que aos 51 minutos, o Rio Ave dá espaço (finalmente) para Otávio “pensar” o jogo. O brasileiro serve Herrera, que livre de marcação, arrisca o remate de fora da área. A bola vai ao ângulo, aproveitando o ligeiro adiantamento de Cássio. Golaço do mexicano! O melhor momento do jogo e claramente o lance decisivo do encontro.
A partir daqui, tudo mudou. O Rio Ave teve a necessidade de procurar outra ideia de jogo. Se antes bastava anular o Porto, agora era preciso algo mais.
Aos 55’, Capucho fez entrar Ronan para o lugar de Pedro Moreira. Entrou um avançado, saiu um médio. O esquema de 4-4-2 losango/4-1-3-2 manteve-se mas o equilíbrio do meio-campo perdeu-se. Gil Dias passou para a posição 10, Rúben Ribeiro para o lado esquerdo.
Num ápice, aos 57’, os planos de Capucho iam por água abaixo. Otávio, cheio de garra e motivação, ganha o duelo a Marcelo, este em plena grande área, faz falta e vê o cartão vermelho.
André Silva, chamado a converter, permitiu a defesa de Cássio mas não perdoou na recarga.
O Fc Porto, menos de 15 minutos do segundo tempo, tinha o jogo resolvido.
Capucho adaptou a sua equipa e o Rio Ave passou a jogar em 4-3-2. Com esta formação, a formação local perdia a batalha do meio-campo e não conseguia colocar a bola nos homens da frente.
Fábio Veríssimo, talvez com dúvidas pelo vermelho mostrado a Marcelo, resolveu igualar as duas equipas em termos numéricos.
Aos 65 minutos, Alex Telles, junto à bandeirola de canto, estava a proteger a bola, usou os braços, num movimento perfeitamente, em momento algum soube onde estava Heldon, logicamente que não o queria agredir ou até tocar. O avançado do Rio Ave resolveu dar espectáculo e fez uma fita tremenda. O árbitro foi na cantiga e o defesa esquerdo brasileiro foi expulso, por acumulação de amarelos. Apesar de, em minha opinião, ter sido uma decisão injusta, fica o exemplo para Alex Telles não facilitar. O primeiro amarelo era escusado e aqui em Portugal o critério dos árbitros e auxiliares é sempre imprevisível. Mais vale jogar à defesa.
Nuno Espírito Santo também teve de adaptar a sua formação. Retirou Otávio e fez entrar Layun. O mexicano foi para defesa esquerdo e o Porto passou a jogar em 4-4-1 com André André a fechar o lado esquerdo do meio-campo.
Com 10 contra 10… a qualidade mas sobretudo a intensidade do encontro caiu. O Porto finalmente controlava o meio-campo, o Rio Ave raramente criou perigo. Casillas fez uma boa defesa já em cima dos 90’.
Os últimos 20 minutos da partida foram tranquilos. Deu para ver Depoitre em acção. O belga demonstrou que sabe segurar a bola, jogar para a equipa e mostrou que pode ser útil, em vários jogos.
Em conclusão, podemos dizer que a vitória do Porto é justa, em especial pelo que fez na segunda parte. A equipa está em construção, o Porto de Nuno Espírito Santo não aposta tanto na posse de bola, prefere muitas vezes jogar sem ela ou colocar o esférico rapidamente na frente através de passes com profundidade.
Parece que teremos um Porto mais pragmático, mais solidário, mais combativo mas talvez menos criativo, com uma menor nota artística.
Pontos positivos:
1) A atitude de ambas as equipas enquanto o jogo foi disputado 11 contra 11.
2) A agressividade do Rio Ave. O futuro promissor de Gil Dias.
3) O golo de Herrera.
4) O futebol de Otávio e as recepções de bola de Corona.
Pontos negativos:
1) A incapacidade do Rio Ave em reagir à desvantagem.
2) Os problemas de construção de jogo do Fc Porto na 1ª parte.
3) A qualidade do espectáculo, em termos estéticos (embora estejamos ainda no início de época).
Os jogadores do Porto:
Casillas – Sem culpas no golo. De resto, defesas atentas aos poucos remates desferidos pelos vila-condenses.
Maxi – Parece ainda não estar na sua forma habitual. Precipitado no passe. Cumpriu a defender.
Felipe – Está em fase de adaptação. Alterna lances nos quais demonstra a sua qualidade com erros infantis. Insiste nas faltas, a maioria escusadas. Tem de ter mais cuidado e atenção.
Marcano – Mais uma exibição sóbria, discreta e eficaz. Parece outro jogador na era de Nuno Espírito Santo. Não complica, não inventa.
Alex Telles – Esteve no lance do primeiro golo do Porto. Mas a análise de Felipe encaixa na perfeição para Alex Telles. Não pode cometer faltas desnecessárias.
Danilo – Está a recuperar tempo perdido. Regressou há pouco tempo de férias e já é titular indiscutível. Ainda não está a 100% mas é daqueles jogadores que não sabe jogar mal.
Herrera – O homem do jogo. Pelo golo (momento decisivo do encontro). É também o jogador que dá os equilíbrios ao meio-campo. Caso permaneça no plantel, poderá ganhar importância no jogo da equipa. O modelo de jogo de Nuno Espírito Santo encaixa muito melhor na sua forma de jogar do que um modelo assente na posse de bola.
André André – Esforçado. Corre muito. Dá tudo o que tem. Ninguém lhe retira o mérito. A questão é se a posição 10 é a correcta ou ideal para ele. É certo que com a dinâmica de jogo, o 10 na verdade é Otávio mas André André nem sempre parece confortável na missão que o treinador lhe pede, actualmente.
Corona – É um jogador intermitente. Ora está no jogo, ora parece ausente. Marcou o golo do empate, importantíssimo. Deu ânimo à equipa e retirou confiança ao adversário. A forma como recebe a bola é fantástica.
Otávio – É o desequilibrador da equipa. O criativo. O verdadeiro 10 da equipa, apesar de partir da linha, do corredor. Hoje teve honras de ser o alvo, o inimigo púbico n.º 1 do Rio Ave. Sentiu dificuldades nos momentos iniciais mas aproveitou cada metro concedido pelo adversário para mostrar a sua arte, o seu futebol.
André Silva – O miúdo voltou a marcar. Exibição de sacrifício, muito esforço. Importante no lance do golo da igualdade a ganhar o lance nas alturas aos dois centrais do Rio Ave. Manteve os níveis de confiança elevados. Falhou o penalty mas marcou na recarga e o seu golo… “fechou” o jogo.
Layún – Entrou para ocupar o seu lugar de defesa esquerdo. A qualidade está intacta e reúne argumentos para ser novamente titular.
Depoitre – Foi chamado para o lugar de André Silva. Entrou bem o belga. Segurou a bola, jogou para a equipa. Foram cerca de 15 minutos que fazem antever a utilidade do jogador no decorrer do campeonato.
Adrián – Substituiu Corona. Missão: fechar o lado direito do meio-campo. Parece empenhado em “mostrar serviço” ao treinador.