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Felipe: «Sinto-me bem, mas quero ser campeão pelo FC Porto»

DIÁRIO_ Como foi a primeira temporada na Europa? Ficou satisfeito com o que rendeu? E o que dá para esperar da próxima, agora em termos de resultados e conquistas?

FELIPE_ Fiquei satisfeito, mas não completamente. Tive boas atuações, uma repercussão muito boa, mas o objetivo principal, que era um título com a camisa do Porto, não veio. Então, esse é o grande foco para esta temporada. Quero sentir novamente o gosto de ser campeão. Jogador sobrevive de títulos e bons frutos dentro do clube. Tive uma primeira temporada produtiva, gostei dela, mas não posso parar. Tenho de evoluir sempre, brigando por títulos.

Como foi o começo no Porto? Com dois gols contra nos primeiros jogos, teve um momento em que pensou: “Caramba, é muito azar”?

Isso, já estou calejado (risos). São coisas que não afetam mais. Um foi no primeiro jogo, questão de adaptação. O outro foi uma bola qualquer que acabou entrando. Não ficaria de cabeça baixa, consegui me recuperar bem, fiz uma grande temporada, Era só uma questão de adaptação. Agora, já peguei a mecânica do time e conheci mais o clube e o futebol da Europa.

Então, está tudo certo. Se analisar, na verdade, dá até para comparar com o início da passagem pelo Corinthians, não? No clube, você também demorou a engrenar e adquirir confiança até se firmar bem.

Não dá para comparar, porque, quando cheguei ao Porto, já estava muito bem, vim de uma boa fase no Corinthians, campeão brasileiro em 2015, seleção do Paulistão e convocação para a seleção brasileira em 2016… Cheguei ao Porto um outro jogador, com a cabeça boa, absorvendo só coisas positivas, não ligando para críticas destrutivas. No Corinthians, as críticas, no começo, me afetavam. Tive de fazer um trabalho psicológico para seguir trabalhando e evoluindo. Cheguei a pensar em desistir por muitas coisas, mas recebi muito apoio das pessoas do clube e de amigos e familiares. Não tem nada a comparar.

No Corinthians e, agora, no Porto, você foi peça importante de sistemas defensivos de destaque. Quais os segredos para se ter uma boa defesa?

Não tem segredo. É ter uma ligação boa com o seu companheiro. Não só o de zaga, mas com toda a equipe. Tenho um bom relacionamento com todos. Com o Marcano (espanhol, atual parceiro de zaga no Porto), eu me dei muito bem desde que comecei a jogar com ele. Se você tiver uma boa ligação com o companheiro de zaga, e entender bem o que o treinador quer passar nos treinos e jogos, isso já ajuda muito para as coisas darem certo.

O que foi mais importante, na Europa, para o seu crescimento profissional? E pessoal?

Quando surgiu o interesse do Porto, comecei a assistir mais aos jogos, comecei a ver mais o futebol europeu e a entender muito mais. Falava bastante com o meu pai, perguntando o que ele achava de tudo. Quando cheguei, cheguei mais preparado do que poderia estar. Estudei um pouquinho, primeiramente, e isso me ajudou bastante. Claro que você precisa se adaptar, não é fácil ficar longe da família e dos amigos, mas a minha esposa sempre esteve ao meu lado, me ajudando em tudo. Meus familiares também vieram (a Portugal) quando puderam… E fui muito bem recebido por todos no Porto. Só tenho a agradecer pela confiança e pelo tratamento que tive desde o começo.

Dá para comparar o Felipe do Corinthians com o do Porto? Mudou alguma coisa?

Mudou, sim (risos). Até falo com o meu pai e os meus amigos. Agora, estou me impondo mais. Hoje, graças a Deus, já consegui mostrar o meu trabalho, estou mais firme, mais confiante. Tenho mais respeito dos adversários, também. Não mudei pessoalmente, sou a mesma pessoa, que mantém o respeito e a humildade, e que busca crescer a cada dia. Mas estou muito mais confiante em campo, sem dúvida alguma.

Dá para apontar qual foi o seu melhor parceiro de zaga, até hoje, e qual o atacante mais complicado que já teve de marcar? E por que, claro?

Sobre o melhor parceiro de zaga, é uma pessoa que, para mim, é meu irmão. Até brinco que é meu irmão negro: o Gil. Nós temos uma ligação muito importante de amizade. Conquistamos o título brasileiro em 2015, então, ficou marcado como um parceiro de muito sucesso. Temos esse contato e esse carinho um pelo outro até hoje. No Porto, estou me dando muito bem com o Marcano, que é um jogador de muita qualidade e com bom entendimento de jogo. Sobre o atacante mais complicado de marcar, para mim, foi o Ricardo Oliveira. Foi o mais chato, digamos (risos). Ele é um atacante muito experiente, inteligentíssimo, joga sempre no espaço livre, não deixa você encostar muito. Tira a referência de marcação.

O Tite parece ter uma base do sistema defensivo muito bem definida na cabeça dele para a seleção, e nessa base não está você. Você sonha com seleção? Para este ciclo, ainda, ou talvez depois, em uma renovação após a Copa de 2018?

Todo jogador sonha em representar o seu país. Eu não sou diferente. Tenho de trabalhar intensamente. Sei que não é fácil, são muitos jogadores de qualidade, mas estou fazendo o meu trabalho. Faço o que eu posso, aprendendo e evoluindo a cada dia. Se Deus quiser, quando eu chegar à seleção novamente, estarei preparado.

Falando em sonhos, quais os seus? O que ainda não conquistou que quer conquistar? Onde quer jogar? Sonha em disputar uma Copa?

Tenho grandes objetivos, com certeza. Pelo Porto, quero conquistar o Campeonato Português e a Liga dos Campeões, um dos campeonatos mais importantes do mundo. Se eu chegar à seleção, quero conquistar uma Copa. Não é um sonho, é um objetivo. Sonho, ficamos apenas pensando. Eu vou trabalhar muito para essas coisas acontecerem um dia. Vou correr atrás dos meus objetivos e trabalhar todos os dias para consegui-los.

Uma coisa que ajudaria, e ajuda, na verdade, é o fato de o Tite conhecer bem você. Você falou com ele alguma vez depois de ele ter virado técnico da seleção brasileira?

Não falamos diretamente. Já tive contato com pessoas ligadas a ele, me passaram algumas orientações, me deixaram claro que não estou esquecido, que estou no radar de observação… Isso me dá ânimo. Sei que posso chegar à seleção, mas com o pensamento no clube, trabalhando muito duramente e conquistando todos os objetivos com a equipe. O Tite é um cara muito aberto, não trata ninguém de forma diferente e dá moral para todos que mostram respeito, foco no trabalho e vontade de vencer com lealdade.

Falando com alguns jogadores que estiveram no 7 a 1 para a Alemanha, como o Willian, eles dizem que todo mundo sentiu demais aquele baque. Outros, que não estavam lá, dizem que, mesmo sem terem jogado, de alguma maneira, sofreram por causa daquilo, fosse com brincadeiras, zoeiras de um companheiro gringo. Aconteceu com você? O 7 a 1 teve que efeito para você?

Muito. Naquele momento, foi complicado de assistir. Sabemos o quanto é difícil, sofremos juntos. Vi pela televisão, e todos os jogadores e torcedores sentiram. Ficou marcado, todo mundo falou muito disso. Mas, agora, isso tem de ficar no passado. A seleção está com outra cara, não tem de pensar mais nisso nem bater nessa tecla. Agora, é pensar daqui para a frente, e no que o Brasil pode fazer. O fato é que a seleção tem muita qualidade para conseguir os objetivos traçados.

Quando você esteve no Brasil, passou no Corinthians. Continua ligado ao clube? Tem acompanhado o Timão?

Sim, acompanho sempre que posso, mas são quatro horas de diferença (risos). Acompanho em redes sociais, ainda falo com muitos ex-companheiros e funcionários. Tenho uma ligação muito forte com o clube e sempre terei. Sou muito grato a todos pelo que vivi e nunca vou me esquecer disso.

O que está achando desse começo de trabalho do Fábio Carille, uma pessoa com quem você trabalhou muito?

O Fábio Carille é uma grande pessoa, humilde e muito competente. Sou muito feliz e honrado de ainda manter contato com ele. O início dele como técnico foi surpreendente para todos, mas quem o conhece sabe das qualidades que tem. É só o começo da carreira de treinador, que terá muito sucesso. Ele é uma grande pessoa, tem uma família maravilhosa, que ajuda para ele conseguir todos os objetivos.

Dá para se lembrar um pouco da sua história no Corinthians? Como foi ter dado a volta por cima de maneira impressionante depois de praticamente ter colocado um pé fora do clube, quase sendo negociado a qualquer momento?

Para mim, foi um aprendizado muito importante. Cheguei ao Corinthians sem base e recebi muitas críticas quando comecei a jogar. Parei, fiz um trabalho psicológico com a minha família e os meus amigos, trabalhei muito no campo para evoluir e conseguir os meus objetivos. O Tite apostou muito em mim, principalmente em 2015, quando me firmei como titular. Essa foi a alavanca. Hoje, sou calejado com as críticas. Sei que existem críticas construtivas e aquelas maldosas, que não me afetam mais como afetavam. Isso é importante para a carreira e para o lado pessoal. Sou um ser humano, você vive outras coisas, e isso me influenciava em tudo. Foi um grande aprendizado, que levo para a vida toda.

Olhando as suas redes sociais, é impressionante ver como a torcida do Corinthians não te esquece e pede a sua volta. Legal, né? Como lida com esse carinho?

É muito bom receber esse carinho, porque é um sinal de que fiz um bom trabalho. Isso valeu muito a pena. O carinho que recebo dos torcedores do Corinthians, hoje, eu tenho também dos torcedores do Porto, e isso me dá uma alegria enorme. Essas duas torcidas estão no meu coração. Hoje, tenho contrato e pensamento só no Porto. Claro que gosto de receber o carinho de todos, mas tenho um trabalho para fazer no clube, e meu foco é fazer o Porto ser campeão. Tenho muita vontade de dar um título para esse clube.

O que acha do apelido Sergio Ramos de Itaquera, sendo comparado a um dos principais zagueiros do mundo?

Acho legal, eu gosto (risos). Quando estava no Corinthians, achava graça e gostava do apelido. Mas, hoje, estou mais perto dele, não posso deixar isso me influenciar. Vamos ficar como Felipe, mesmo (risos). Se Deus quiser, meu nome será forte, também. Espero que, um dia, alguém seja comparado ao Felipe Augusto (risos).

Por fim, hoje, quando olha para trás e vê tudo o que já passou na vida e tudo o que já conquistou na carreira, que pensamento vem à cabeça?

Pensamento de muita felicidade. Tenho orgulho de saber que, nos quatro anos e meio que fiquei no Corinthians, conquistei quatro títulos muito importantes. Isso não é para muitos. Comecei a carreira como jogador em 2010. Fico muito feliz com tudo o que conquistei e isso não pode parar. No futebol, não podemos estacionar nunca. Quero fazer no Porto a mesma história que fiz no Corinthians. Quero trazer títulos importantes, como o Português e a Liga dos Campeões. Seria muito importante para mim, para o clube e para todos os torcedores. Quero estar sempre evoluindo e buscando objetivos maiores.

Fonte: http://www.diariosp.com.br/